quarta-feira, 18 de setembro de 2013

UPPs: UM PROJETO INSUSTENTÁVEL

Uma verdade tem sido esquecida por boa parte da imprensa e dos especialistas em segurança: o Rio de Janeiro é um estado e contém entre os seus noventa e dois municípios, uma Capital que possui nome idêntico ao estado, ou seja, Rio de Janeiro. Tal lembrança pode ser considerada uma tolice para o leitor apressado, a ele peço paciência. Ela é relevante principalmente tendo em vista que em termos de segurança pública a maioria tem confundido o todo pela parte, uma metonímia, sobretudo no tema Unidades de Polícia Pacificadora, as famosas UPPs, que consideram um benefício enorme para o Rio de Janeiro.
As UPPs são um projeto de segurança pública claramente municipal, como a prática demonstrou de forma inequívoca, considerando que após cinco anos de existência, foram implantadas até a presente data um total de trinta e quatro, todas na Capital.
Embora não seja o foco do artigo, não custa lembrar que raros foram os traficantes presos no processo de implantação das UPPs. Eles se dividiram em dois grupos: um que permaneceu na comunidade comercializando drogas sem exibir armas e outro que se transferiu para outras comunidades, inclusive em outros municípios, onde praticam vários crimes. O segundo grupo reforça a tese de que as UPPs são um projeto municipal de segurança. O importante tem sido garantir a segurança da Capital, a partir da Zona Sul. Eis a verdade que os fatos comprovam.
De volta ao tema, destaco parte da entrevista do secretário estadual de segurança pública, o delegado de Polícia Federal Beltrame, concedida ao jornal O Globo, no domingo passado:
“Nossa proposta é que, até o fim do próximo ano, o Rio conte com pelo menos 40 UPPs. Pode ser que a gente avance um pouco mais. A UPP não é a solução de todos os problemas. O projeto é grande, audacioso. Hoje, temos 8.592 PMs dentro de 34 áreas historicamente conflagradas. Os problemas vão existir. A ideia é chegar a mais de 12 mil policiais” (Leia).
Usando os números do secretário concluímos que temos uma média de 250 Policiais Militares por UPP. Apenas para permitir o avanço do raciocínio, vamos estimar que um Batalhão de Polícia Militar possui o efetivo de PMs prontos para o serviço equivalente ao efetivo de três UPPs, ou seja, 750 homens. Na realidade a maioria dos batalhões possui um efetivo menor.
Números para lá, números para cá, temos nas 34 UPPs instaladas nas comunidades um efetivo total equivalente ao efetivo estimado de mais de dez Batalhões de Polícia Militar.
Caro leitor, sugiro uma reflexão: o efetivo desses mais de dez batalhões, empregados apenas em comunidades da Capital, está fazendo falta nas ruas do Estado do Rio de Janeiro?  
Não existe mais qualquer dúvida: a implantação de policiamento nas comunidades carentes foi um acerto, a maneira empregada um grande erro. A colocação de milhares e milhares de PMs em comunidades da Capital, não recompletando os efetivos dos batalhões, efetivos que deveriam ser aumentados na verdade, foi um grande erro estratégico.
Trocou-se o todo pela parte, prejudicando noventa e um dos noventa e dois municípios que integram o Estado do Rio de Janeiro.
Além disso, para atender ao projeto municipal de segurança a Polícia Militar foi obrigada a transformar o seu Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças em uma fábrica de produzir Soldados PM para integrar as UPPs. A quantidade pela qualidade foi outra troca cruel para a Polícia Militar e para a população.
O projeto é insustentável, não se pode manter tamanho absurdo estratégico em termos de política de segurança publica estadual. Um projeto que pode até ser considerado elitista, diante da prioridade no atendimento à Zona Sul da Capital, a área nobre.
O atual governo seguirá implantando UPPs e recebendo aplausos da imprensa e de especialistas até o final de 2014.
As atuais UPPs não serão extintas, por razões políticas não poderão ser, mas terão seus efetivos severamente reduzidos no futuro, caso o novo mandatário estabeleça uma política estadual para a segurança pública. Caso ele enxergue que existem o município e o estado do Rio de Janeiro, homônimos, mas o segundo contém o primeiro.
O saldo para o governo Cabral será positivo por algum tempo, isso enquanto as verdades sobre as UPPs não forem ditas por todos e não chegarem ao conhecimento de todos.
O saldo para a Polícia Militar?
Uma tropa agigantada, desqualificada e desvalorizada.
O saldo para a população?
A violência que enfrentamos atualmente nas ruas é a melhor resposta.
Juntos Somos Fortes!

2 comentários:

  1. Po, eu acho o programa de upps um otimo programa, precisa constantemente de ajustes, mas revolucionou positivamente o cenario de segurança publica no RJ

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  2. Prezada Tereza, grato pelo comentário. Pergunto:
    a senhora fez esse comentário sob a ótica de uma pessoa que mora em bairro que recebeu UPPs ou em bairro que recebeu os traficantes que saíram das comunidades onde foram implantadas as UPPs?
    A simples diferença entre as respostas a essa pergunta explica o real valor das UPPs.
    Juntos Somos Fortes!

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