terça-feira, 5 de novembro de 2013

OS EFEITOS DANOSOS NAS POLÍCIAS CIVIS DA DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIA MILITARES


(Não se deixe convencer com base no que escrevemos, 
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Prezados leitores, o nosso primeiro cuidado deve ser esclarecer que o presente artigo foi escrito tendo por base o texto inicial e a justificativa da PEC 51/2013, desconhecemos as propostas apresentadas para modificar o texto apresentado no primeiro momento.
O tema desmilitarização das Polícias Militares (PMs) é um tema recorrente quando se aborda a necessidade da promoção de mudanças na segurança pública. Na própria elaboração da Constituição Federal de 1988 isso foi tentado, como também foi tentando em PECs que tramitaram e que tramitam pelo Congresso Nacional. A PEC 51/2013 é a bola da vez para desmilitarização, chutada para o alto, ganhando maior visibilidade, pelos protestos que estão ocorrendo nas ruas e pela forma como algumas PMs estão se portando nos respectivos estados.
Cabe também destacar logo de início que a aprovação da PEC 51 não apenas desmilitarizará as PMs, ela acabará com as duas polícias estaduais. Isso precisa ser esclarecido tendo em vista que muitos estão confundindo o fato da PEC preconizar que "a polícia é definida como uma instituição de natureza civil...", que isso significaria a manutenção das Polícias Civis, o que é um equívoco. Tal entendimento errôneo é reforçado em razão da PEC tratar da desmilitarização diretamente, o que sinaliza que só as PMs sofreriam alteração.
Como escrevemos em vários artigo, equivocadamente, circula o pensamento no sentido de que a modificação do modelo organizacional das PMs será a solução para tornar o sistema policial mais eficiente e mais cidadão, nada mais absurdo diante da realidade. As mudanças no sistema policial precisam ir muito além da discussão de modelos organizacionais, não será isso que nos dará eficiência, bastando para chegar a tal conclusão analisar o grau de eficiência das Polícias Civis (PCs) do Brasil, as quais não seguem o modelo organizacional militar e são ineficientes ao extremo, apesar de ter que cumprir apenas uma missão: investigar.
Raciocínio idêntico podemos fazer quanto à alegada violência das PMs, basta ver as imagens de atuações das Polícias Civis nas comunidades carentes e das Guardas Municipais nas ruas para se concluir que são tão violentas quanto as Polícias Militares.
Salvo melhor juízo, não diminuiremos a violência policial e nem aumentaremos a eficiência policial com a desmilitarização das Polícias Militares.
A PEC 51/2013 não propõe apenas a desmilitarização das PMs, felizmente, pois ela corre o risco de ser aprovada e ela tem aspectos positivos.
Nesse ponto deixo claro a minha opinião atual no sentido de que a possibilidade da desmilitarização das PMs seja mínima, apesar do clamor das ruas, da voz dos desavisados, que pedem por algo sem medir antes as consequências, correndo um seríssimo risco de mudar para pior.
A PEC tem também o parâmetro positivo da adoção do ciclo completo de polícia para todas as polícias, nos diferentes níveis propostos. Eis algo que defendo há muito anos, o ciclo completo para as polícias estaduais (Militar e Civil). 
Nas sugestões a PEC apresenta como um dos modelos propostos, algo que eu defendo, ou seja, duas polícias estaduais, ambas realizando o ciclo completo, tendo a área de atuação definida por uma divisão geográfica do estado membro. Só que a PEC prevê isso após a desmilitarização das PMs. Para mim o modelo proposto, sem a prévia desmilitarização das PMs,  é o melhor para os tempos atuais, onde as duas polícias são ineficientes, o qual nos permitiria inclusive uma competição extremamente saudável em termos de eficiência. Aplicado o modelo, após alguns anos teremos como aferir a eficiência do modelo organizacional através da avaliação dos resultados. Qual foi  o mais eficiente? 
O militar ou o outro.
Obviamente, no momento da avaliação, teremos o dever de considerar que as Polícias Militares teriam uma grande vantagem no início, pois além de deterem o conhecimento em termos de policiamento ostensivo e de preservação da ordem pública, o que as Polícias Civis não possuem, elas começariam do zero; os Oficiais, Subtenentes e Sargentos das Polícias Militares praticam rotineiramente  as ações de polícia investigativa, desenvolvendo as mesmas ações e usando os mesmos recursos das Polícias Civis, portanto, partiriam em igualdade de condições neste quesito.
No terreno das possibilidades, penso que a aprovação do modelo proposto no parágrafo anterior seja o melhor para as Polícias Civis, pois se a PEC 51 for aprovada com a desmilitarização das PMs, as Polícias Civis serão absorvidas, embora muitos acreditem  que elas absorveriam as Polícia Militares, ledo engano.
Peguemos o estado do Rio de Janeiro como exemplo, destacando que a situação em estados como São Paulo e Minas Gerais, seria ainda muito pior para a Polícia Civil (PC).
No Rio de Janeiro, o efetivo ativo da PM é superior a 40 mil, enquanto o efetivo ativo da PC se aproxima de 10 mil. Sem ter os números absolutos, adotando esses números de 2012 como referência e considerando a constante entrada de PMs para a implantação das UPPs, na melhor das hipóteses para a PC o seu efetivo ativo é da ordem de 20% a 25% do efetivo da PM.
Aprovada a PEC 51, ambas as polícias serão extintas, assim como, seus cargos e funções, cabendo  aos estados o dever de organizar a sua polícia ou as suas polícias, existindo duas propostas básicas:
1) A unificação das polícias estaduais.
O estado membro criará os novos cargos e funções para os 50 mil policiais, sendo 40 mil oriundos da PM e 10 mil oriundos da PC. 
Todos os novos policiais possuiriam a bagagem de conhecimento adquirida na carreira anterior. Os PMs não deixariam de ser PMs da noite para o dia e nem os PCs deixariam de ser PCs.
Quem será o gestor dessa nova polícia? 
Um ex-Coronel ou um ex-Delegado? 
Teremos uma ditadura da minoria na segurança pública, creio que não.
Como expliquei os ex-PMs levariam uma grande vantagem no início, sobretudo os ex-Oficiais, pois não teriam qualquer dificuldade para atuarem na área da polícia investigativa.
Imaginem um ex-Delegado planejando o policiamento ostensivo para os jogos da Copa 2014. algo que ele desconhece por completo?
Não é questão de ser melhor ou pior, a questão é de conhecimento profissional, experiência na atividade policial de ciclo completo, algo que só existe nas PMs.
Salvo melhor juízo, a Polícia Unificada seria uma grande PM, sem as fardas e sem os regulamentos disciplinares.
2) A manutenção de duas polícias com divisão geográfica para definir a área de atuação.
Neste caso, os dois grupos poderiam se manter separados, pois a união significaria a absorção da PC, como tratamos. Um grupo dirigido por um ex-Coronel e o outro por um ex-Delegado.
A lógica então determinaria que a extinta PM, em razão do seu efetivo, seria a responsável pela segurança pública na Capital e na maioria dos municípios, restariam para a PC alguns municípios de menor população, provavelmente no Interior. Agir em direção oposta seria um grande risco, além de ter que acabar com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que atualmente consomem mais de 8.500 PMs, quase o efetivo total da PC.
Mais uma vez, salvo melhor juízo, a atual PC seria seriamente prejudicada.
Imaginem ex-Policiais Civis patrulhando à pé uma rua ou compondo uma guarnição de Rádio Patrulha.
E atuando como integrantes de força de choque para controlar os protestos nas ruas que ocorrerão em 2014. 
Será que os ex-Policiais Civis não usariam gás pimenta, bombas de feito moral e balas de borracha?
Em apertada síntese, penso que a aprovação da PEC 51 não resolveria os problemas do sistema policial brasileiro, além de trazer sérios prejuízos para as Polícias Militares e, sobretudo, para as Polícias Civis.
Apesar dessas verdades, não podemos esquecer que se preservar as instituições é muito importante, prover segurança pública de boa qualidade para a população é muito mais importante do que a preservação das Polícias Civis ou Militares.
O que tiver que ser feito no sistema policial para garantir eficiência no sistema policial deve ser feito, isso é urgente, mas não podemos prescindir de um estudo multidisciplinar, tendo como um dos parâmetros o pragmatismo, ou seja, saber o que estaremos construindo, caso contrário a aprovação da PEC 51/2013 significará o fim das denominadas Polícias Civis e Polícias Militares, bem como, o nascimento de uma grande polícia estadual (ou de várias) sem fardas, sem regulamentos arcaicos, todavia, ainda muito ineficiente e violenta.
Além disso, não podemos esquecer que cada estado poderá organizar a(s) polícia(s) do seu modo, seguindo alguns parâmetros previstos na PEC. 
Isso de nada adiantará.
Talvez signifique a piora do que é muito ruim.
Juntos Somos Fortes!

6 comentários:

  1. Prefiro o modelo do Canadá : lá não tem PC, não tem delegado, não tem PF, eles contam apenas com a RCMP, a Polícia Montada do Canadá, que é MI-LI-TAR. Basta assistir ao seriado Flashpoint, sobre o BOPE deles. Passa em um canal de tv paga, o universal. Pequeno detalhe : no Canadá há PUNIÇÃO NA LEI, e também no Canadá há uma coisa esquecida por aqui que são as PRISÕES. As cadeias. Um sistema penitenciário. E lá também eles devem contar com juízes, idem por aqui uma coleção de gente em alguns casos "um pouco" duvidosa, basta se olhar para o STF.

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  2. Gente o militarismo ainda existe nas polícias do Brasil devido a sua conveniência para os políticos (que em sua maioria não querem investir com eficácia na segurança pública, pois têm outros interesses mais urgentes como desvio de verbas para investimento pessoal e em campanhas políticas) e para a cúpula das polícias (altos oficiais) que recebe o aval do poder político para conseguir seus benefícios (dinheiro). Funciona assim: político não quer investir e nem quer receber pressão das classes policiais (geralmente as praças) e isso se torna mais fácil (não receber pressão) quando se tem um regulamento que o ajude a dissipar a pressão exercida pela classe policial em suas reivindicações. E para o uso desse regulamento ele utiliza as cúpulas vendidas ( autos oficiais). Ou seja, o famoso "TOMA LÁ DA CÁ" entre políticos e auto oficiais. Por isso que ela é militarizada (porque desse modo para eles e mais fácil nos governar, não investir e desviar dinheiro).
    Eu que sou policial militar e sofro na pele as atrocidades do regime militar posso dizer que a policia militar foi fundada para proteger os políticos e as classes econômicas que comandam o país (já que não podem contestar e só podem dizer “sim senhor”), reprimindo qualquer um que vá de encontro com os interesses deles inclusive os integrantes da própria polícia.
    Além disso, para uma polícia ser cidadã, os seus integrantes tem que primeiramente receber a cidadania, já que não possui devido o regulamento castrense que se pode resumir numa frase muito repetida pelos superiores no quartel: “Você tem dois direito: um é não ter direitos, dois é não reclamar do direito que tem”.
    Alías, Coronel Paúl o senhor mesmo foi preso injustamente em Bangú só por ter contestado o status quo. Outra coisa Coronel a polícia civil sofre dos mesmos problemas de infraestrutura que as PMs e as reivindicações deles são geralmente enfraquecidas pela própria PM que fica tapando o buraco enquanto a PC esta em greve além do que o contingente da PC é muito menor que o da PM e a falta da PC no dia-a-dia não é tão sentida pela população, excetuando os preenchimentos dos BOs, diferentemente da PM que se parar a população sente os efeitos disso quase que imediatamente. Ao invés de fazer comparação com a PC coronel faça uma comparação com a Policia Federal que é civil e tem um estrutura de trabalho bem melhor que as da PM e PC. Outra coisa coronel, aprender a distribuir um Policiamento Ostensivo não é coisa de outro mundo, um ex-delegado pode muito bem fazer isso.

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  3. Grato pelos comentários.
    Anônimo (16:08) - Bom exemplo. O Canadá tem um sistema policial eficiente, o nosso é uma lástima.
    Anônimo (20:27) - O seu comentário é muito pertinente em vários aspectos. Concordo com várias de suas colocações. Tenho que comparar PM com PC pois são as polícias estaduais. A PF, por sua vez, apesar dos bons salários e da melhor estrutura está longe de ser eficiente. Lá ocorre inclusive o que ocorre nas PCs, a divisão em duas classes: os delegados e os outros. Aliás, isso também ocorre nas PMs: Oficiais e Praças. Duvido que um ex-delegado aprenda com rapidez como planejar adequadamente ações de policiamento ostensivo e de preservação da ordem pública. Sinceramente, o problema não é o modelo organizacional das polícias, não é isso que determina a ineficiência que vivenciamos. Certamente, as PMs precisam acabar com os regulamentos arcaicos, mas feito isso, garantindo a cidadania dos PMs, o modelo será aceito até para os Praças que hoje criticam.
    Juntos Somos Fortes!

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  4. Quem ocupa, hoje, o poder ? A Esquerda, sem dúvida. É fácil, pois, entender a situação pela qual passa qualquer questão envolvendo militares. Vejamos, por exemplo, a tal Comissão Nacional da Verdade, fruto de puro revanchismo. A voz do autor deste blog, a julgar pelo silêncio de seus pares, soa, infelizmente, como clamor no deserto.

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  5. Bem, tudo indica que o senhor é totalmente a favor da policia militar, mas o senhor desconhece que muitos policiais civis do Estado do Rio de janeiro são formados, nível superior, e para ingressar no cargo de nível superior. Diante disso, os cargos a serem ocupados terão que ser no mesmo nível dos oficiais. Embora o efetivo das Policiais civis sejam inferiores das Policiais militares não quer dizer que serão comandadas por policiais militares. Vale apena lembrar, que antes da Policia Militar assumir o policiamento ostensivo, quem fazia o patrulhamento das ruas era as policias civis. Espero que a unificação das policias sejam de forma que todos os policias, todos, sejam e estejam consciente dos seus deveres e direitos. Quanto a eficiência da Policia Civil, que tem a tarefa de só investigar, não podemos mensurar as dificuldades, os governantes vem criando uma série de dificuldades, e a falta de investimentos e contratação de novos servidores, com certeza dificulta o padrão de eficiência de qualquer instituição. Salvo melhor juízo, espero que as policias civis, como policia judiciária seja realmente colocada no seu devido Órgão, no Poder Judiciário ou no Ministério Público, seria o mais lógico. Mas, como nossos legisladores não tem compromisso com a sociedade e nem com o povo, é muito difícil deles acertarem e corrigirem o engano. Um abraço. do Cidadão.

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  6. Grato pelos comentários.
    Papamike as suas observações são pertinentes.
    Anônimo (22:21) Concordo com suas colocações e longe de mim diminuir o valor dos Policiais Civis ou da Polícia Civil, fiz comentários para destacar aspectos que estão sendo completamente esquecidos quando se trata da desmilitarização das PMs. Antigamente, essa ideia vinha atrelada com a incorporação das PMs pelas PCs, o que era inadmissível e impossível. Hoje o que se prega é o fim das duas, salvo melhor juízo. Eu defendo a manutenção das duas, ambas com ciclo completo e a divisão do território estadual para atuação de cada uma.
    Um abraço
    Juntos Somos Fortes!

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