terça-feira, 3 de dezembro de 2013

OS CORONÉIS BARBONOS, O GOVERNADOR E O AFOGAMENTO DA PM

Charge: Chico

O movimento dos Coronéis Barbonos (2007-2008) foi um marco na história das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil. fato histórico não só pelo seu ineditismo; pelo idealismo, destemor e amor corporativo demonstrados pelos Coronéis ou pelas represálias desenvolvidas pelo governo Sérgio Cabral contra eles, mas por alguns outros fatores que não são fáceis de detectar e que estão mudando até hoje a história corporativa.
Deve ser considerado um marco na história dos Corpos de Bombeiros exatamente pela ausência dos Coronéis daquela heroica corporação, que não ombrearam com os Coronéis PM. Apesar da luta ser por melhorias salarias e das condições de trabalho das duas corporações, os Coronéis BM optaram por não participarem, o que os colocou ao lado do governo, pois diante da dimensão do movimento, ele não tinha muro para ninguém se acomodar. O Coronel PM ou BM estava de um lado ou estava do outro. Eles ficaram no comodismo do lado do governo.
Sem dúvida, marcou também pelo ineditismo pois não se tem notícia na história das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros do Brasil que um grupo de Coronéis da ativa, ocupando as principais funções na sua corporação e, portanto, recebendo as melhores gratificações, tenham ingressado em uma mobilização que tinha como foco principal a melhoria do salário do Soldado PM e BM, que ganhavam na época cerca de R$ 30,00 por dia. A frase força da luta era no sentido de que um Soldado ganha metade do que ganha uma diarista no Rio de Janeiro, uma verdadeira covardia contra homens e mulheres que arriscavam a própria vida em defesa da população.
Os Barbonos, assim como, os 40 da Evaristo, grupo que originou o movimento, deram inequívocas demonstrações de idealismo, destemor e amora corporativo.
O governo Sérgio Cabral não fez por menos: exonerou o Comandante Geral; exonerou todos os Coronéis Barbonos; transferiu Oficiais (40 da Evaristo) e alterou o Estatuto dos Policiais Militares, diminuindo o tempo de permanência dos Coronéis de seis para quatro anos, aplicando a alteração, a lei nova,  em quem já era Coronel, algo que fere de morte o bom direito. O objetivo governamental era claro, afastar os Barbonos o mais rápido possível do contato com a tropa. Nós éramos perigosíssimos, pois lutávamos pela cidadania dos militares estaduais e íamos para as ruas, lado a lado com os Praças, carregando faixas e cartazes, distribuindo panfletos. 
O perigo que representávamos era gigante, tendo em vista que tudo era feito dentro da legalidade, de forma organizada, ordeira e pacífica, como ensinaram os 40 da Evaristo. O que significava que o movimento tinha tudo para crescer, caso não ocorressem as traições, que não foram poucas, diga-se de passagem.
A alteração no estatuto fez com que não só os Barbonos fossem para a inatividade de forma compulsória e prematura (eu fui inativado aos 51 anos de idade), outros Coronéis foram alcançados, embora o governo tenha tido no primeiro momento o cuidado de aumentar os cargos blindados para proteger os que ficaram com ele, isso quando alterou o estatuto. Cargos blindados são aqueles que permitem aos Coronéis que os ocupam permanecerem na ativa após completarem o tempo limite, o que foi alterado para quatro anos, como tratei.
Logo veio uma rápida renovação.
Exonerados os Coronéis mais antigos abriram vagas, Tenentes Coronéis foram promovidos ao posto de Coronel, Majores ao posto de Tenente Coronel e por aí os anos se seguiram.
Paralelamente, a cada problema que surgia na área da segurança pública, o governo exonerava o Comandante Geral da Polícia Militar ou o Chefe da Polícia Civil, mantendo o secretário de segurança.
Isso fez com que em pouco mais de seis anos fossem nomeados cinco Comandantes Gerais, algo nunca visto em nenhum outro estado brasileiro. 
Na hora da escolha, o governo acabou aumentando a oxigenação, pois escolhia Coronéis modernos, o que provocava o afastamento de todos os Coronéis mais antigos, os quais passavam, a ficar na Diretoria Geral de Pessoal, sem função. Situação conhecida como ficar na "geladeira". Dezenas de Coronéis ficaram nessa situação ao longo do governo Cabral. Atualmente, não sei quantos Coronéis estão na "geladeira", quem soube, informe por favor.
A Polícia Militar estava sendo oxigenada, apregoava o governo, como se isso fosse algo plenamente salutar.
Não sabe o governo que o excesso de oxigênio é bom em alguns momentos e ruim em outros. 
Ao oxigenar em demasia, a Polícia Militar perdeu no topo da pirâmide excelentes Oficiais, os quais tiveram uma carreira irretocável, nos seus anos de serviço.
O tempo foi passando e o governo seguiu sacrificando a experiência própria da antiguidade e ficando com a modernidade sem experiência, sobretudo no trato com o andar de cima (governador e secretário de segurança), o que acabou sendo muito cômodo para o governo, pois nunca antes na história da PMERJ foi tão bem cumprido o jargão cruel: "ordem dada, ordem executada".
A ordem é do governador?
"Ordem dada, ordem executada".
A ordem é do secretário de segurança?
"Ordem dada, ordem executada".
Perdeu a Polícia Militar a capacidade de dizer não, isso é o que demonstra a realidade, o dizer não quando a ordem que vem de cima é prejudicial aos interesses da população, da corporação e do Policial Militar.
Respeitosamente, peço desculpas antecipadas pelo meu desconhecimento, caso alguma ordem do governador ou do secretário tenha sido contestada após janeiro de 2008, mas enquanto não conhecer o fato, sou forçado a escrever que o último que fez isso foi o Coronel PM Ubiratan de Oliveira Angelo, sendo exonerado por isso.
Prezado leitor Policial Militar, Oficial ou Praça, caso conheça alguma negativa oriunda do comando da PMERJ, nos últimos anos, a respeito de ordens emanadas de cima que fossem prejudiciais como citei, por favor, informe para que corrija a injustiça que posso estar fazendo, o mais rápido possível.
As evidências mostram que não, sou sincero, pois não é crível que um Coronel PM aceite o agigantamento do efetivo da PMERJ, com as gravíssimas consequências que todos conhecem, inclusive no tocante à qualificação e à valorização profissional, sem dizer não ao interesse político de implantar 40 UPPs, colocando 10.000 PMs nas comunidades, como se isso fosse bom para a população do estado como um todo, para a corporação ou para os Policiais Militares.
Não creio que exista Oficial da PMERJ que considere isso correto.
E, apenas para citar outro exemplo, não acredito que exista Oficial da PMERJ que considere correto esses contratos casados (compra da viatura e manutenção da viatura) caríssimos e que só alcançam parte da frota operacional, fazendo com que parte da frota operacional e toda frota administrativa continue sendo consertada com a economia do Rancho, a economia feita na alimentação da tropa.
A oxigenação da oficialidade da Polícia Militar feita sem o devido critério, afogou a corporação.
Pior, isso é irreversível.
Isso é o que eu penso.
Juntos Somos Fortes!

3 comentários:

  1. Cel Paúl: o que o sr pensa está correto. Mas o pressuposto do governo(?) sergio cabral NUNCA foi realmente adotar uma política de estado para a Segurança Pública, mas tão somente medidas imediatistas e eleitoreiras visando o segundo mandato. Quanto aos Coronéis BM, sempre se soube na caserna como são os Oficiais BM (salvo raríssimas exceções), todos bajuladores, subservientes, carreiristas. Jamais iriam ombrear com os Barbonos contra o governador opressor. Quem esteve na posse do Cel PM Ubiratan em 2006 lembra-se da cobrança feita por ele ali no pátio do QG: "-Governador, dentro de 6 meses irei ao seu gabinete cobrar a sua promessa de melhoria salarial da tropa!" O sr se lembra disso?

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  2. Aí reside o problema, a sociedade não consegue distinguir o que seja um plano de uma política. Enquanto a primeira diz respeito a algo mais imediatista com ¨intenções¨ nem sempre com um alcance visando a população como um todo a segunda é algo mais consistente e envolve sempre mais de um seguimento é mais abrangente e possui objetivos definidos a curto, médio e longo prazo que nem sempre se definem em um único governo. O que temos visto ao longo de décadas é que os interesses ¨eleitoreiros¨ tem se sobreposto aos corporativos e sociais muito bem mascarados por uma mídia que acaba prestando um grande mal a todo cidadão.
    Ronaldo Menezes
    Coronel da Reserva

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  3. Grato pelos comentários.
    Juntos Somos Fortes!

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