Prezados leitores, publicamos o oitavo atigo da série "Críticas e Sugestões" de autoria do Coronel PM Ref Herrera.
"CRÍTICAS E SUGESTÕES (8)
OS
MALES ATUAIS DA NOSSA VELHA
PM
“O fraco rei faz fraca a forte gente”
(LUÍS DE CAMÕES, poeta
português)
Ninguém poderá negar a omissão, senão
a cumplicidade, de nossos Comandantes com estapafúrdias ações e omissões de
governo, em seus interesses político-partidários, por vezes não-republicanos,
mesmo que venham a atingir duramente a própria Corporação. O malsinado Projeto
UPP é o mais marcante exemplo.
Ninguém poderá negar que muitos de
nossos Oficiais descuram dos princípios de Chefia e Liderança e do solene
juramento de ”tratar com bondade os que venham a ser meus subordinados”;
ninguém poderá negar os meandros de corrupção interna corporis, que
nunca discrimina Praças e Oficiais; ninguém poderá negar a constante atuação
desumanizada, envolvendo fatores profissionais – talvez o repugnante cerne do
descontentamento da tropa.
Ninguém poderá negar as péssimas
condições de trabalho: armamentos e equipamentos deficientes, viaturas
sucateadas, pesadas escalas de serviço, caótica assistência médica e social,
precário sistema de previdência (sistema previdenciário diferente do militar
federal).
Ninguém poderá negar a crônica
defasagem de remuneração condigna comum a bombeiros e policiais militares.
Nossos Comandantes, entretanto,
parecem omissos, como que sedados na zona de conforto das gratificações de
cargos, que a tecnoestrutura governamental proporciona. Faz parte
do jogo sujo da imunda política brasileira.
Mas, ainda assim, alguns Oficiais
Superiores PM não aceitaram vender sua consciência.
Para não sermos injustos, basta consultarmos os registros históricos.
Muito atual também, merece destaque a
recente tragédia ocorrida no Jacarezinho. Eternamente deverão ecoar no íntimo de cada policial
militar, as palavras (vídeo gravado em 2015) do heroico Soldado PM Michel de Lima GALVÃO, assassinado em 21/02/2017, quando em serviço na UPP: “Ser policial não é ser guerrilheiro, não é
confrontar em desvantagem numérica, em desvantagem logística, em desvantagem
operacional”.
Palavras que deveriam ser gravadas em
placa, para ser aposta solenemente, no Quartel-General da PMERJ, em eterno clamor contra a omissão
vergonhosa de nossos governantes.
Esse conjunto de situações adversas
levam, sem dúvida, muitos Praças PM a
se afastarem de seus comandantes, chegando mesmo a nutrirem sentimentos de
desafeto e de ódio a superiores. Reação natural e humana; afinal, PM não é super-homem.
Por outro lado, nosso povo, quando
observa a elite dirigente do país, acastelada nos três Poderes da República, constata
pouca eficiência de gestão em todos os setores, sofrendo alta carga tributária
dissociada por completo da boa prestação de serviços públicos. Acima de tudo, a
população está conhecedora de cargos com polpudas remunerações, generosas
mordomias e ricas maracutaias.
Não cabe ao Governo toda a despesa.
Governos nada pagam, quem paga são os contribuintes; daí a carga tributária
brasileira ser a maior no mundo.
E o policial militar – que também é
povo, tem mãe, tem filhos para criar e contas a vencer, sendo mal remunerado e
ainda desprestigiado na sociedade em defesa da qual arrisca a vida – não pode
ficar imune, sendo afetado por essa tão trágica realidade.
Por natural consequência, gera-se
espontaneamente o clima altamente corrosivo do amor corporativo, o que
não convém a sociedade alguma, mormente a uma organização policial.
Não podemos ser hipócritas a ponto de
fingir que tal situação não mantenha aquecido o caldeirão efervescente no seio
da tropa. Nunca é demais repetir: quando os chefes perdem a vergonha, os
chefiados perdem o respeito. Sem dúvida, a pior crise: velada,
sub-reptícia, invisível quase. Mas real.
Em contraponto, também não se pode
negar que todo clima de animosidade fica de
pronto relevado, e o entrosamento parece perfeito, quando se imiscuem
Oficiais e Praças PM, e também policiais civis, para a
prática de crimes, gerando privilegiado submundo marginal. Nunca chegam
notícias de acentuada indignação, em semelhante tom, por parte dos mesmos
críticos policiais
militares. Parodiando a
música popular, aí tudo “tá tranquilo, tá favorável”.
Entretanto, apesar da grave
complexidade do problema, urge iniciar profunda análise de situação. Como
sabemos, toda empresa vai mal, quando seu pessoal não está bem.
E, me desculpem, mas não é fazendo
pesquisas de opinião que se resolverão os problemas. Penso que se torna
necessário e urgente, em minha modesta opinião, que o Estado-Maior da PMERJ elabore estudos visando a propor, em questão
primordial, o reordenamento da gestão dos recursos humanos, com foco na
definição legal da carga horária de serviço, bem como na extinção de
cargos comissionados de Comando e Direção.
Em segundo, elaborar Plano Diretor
(Plurianual, ou outra denominação que se dê), de conteúdo estratégico,
a ser adotado como Política de Estado, evitando ficar submetida a
periódicos programas de Governo, no mais das vezes, imediatistas e de
objetivos pouco republicanos.
Seriam ações necessárias, em
obediência à própria missão constitucional, se considerado o caráter
permanente de toda Polícia, sendo constituída por homens e mulheres que são profissionais.
Sob o risco de, não o fazendo,
chegar-se a perigoso descontrole interno, com graves danos à Segurança Pública
em futuro não tão distante. Não bastará o caráter draconiano de leis e regulamentos
militares como fator de contenção.
Quem viver verá.
NELSON HERRERA RIBEIRO, Cel PM Ref, advogado e professor"
Juntos Somos Fortes!
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