Compartilho:
"LEMOS era um policial diferenciado. Extremamente inteligente e operacional. Com experiência de PQD e da CORE, nunca vi igual em atuação. Foi com ele que aprendi tudo de operação. Trabalhamos juntos em 8 delegacias e, ao longo desse tempo, foram mais de 1500 prisões de traficantes, roubadores, homicidas, milicianos, estupradores e toda horda de marginais que assola a nossa sociedade e o nosso Estado. Muito trabalho. Muito mesmo. Foram incontáveis as vezes que madrugamos na delegacia, sem hora para voltar. Vários desafios e demandas que surgiam dos nossos superiores foram TODOS atendidos, com pronta resposta aos fatos ocorridos. Um grande chefe de investigações, um grande irmão, um grande amigo, com quem passava mais tempo do que com a minha família. Combateu o bom combate e faleceu fazendo o que amava, abraçado ao seu fuzil. Foi um herói. Ao ver que seus companheiros estavam em situação extremamente perigosa e complicada, não hesitou em apoia-los, momento em que foi alvejado fatalmente por um marginal que não tem o menor compromisso com a vida humana e recebem tratamento leniente do Estado.
Trabalhamos em condições mais que precárias. A Polícia Civil está abandonada e a cada dia percebem-se movimentos para retirar as suas atribuições. Não temos acesso às modernas ferramentas de inteligência. Viaturas que mais parecem sucatas ambulantes. Os Blindados só funcionam com gambiarras e sempre quebram nos locais mais perigosos. Por vezes temos que implorar para uma interceptação telefônica, por um mandado de prisão. Enquanto acharem que segurança pública é feita somente com mais viatura, armamento, farda e policiamento ostensivo, a situação só irá piorar. Somente a polícia judiciária é capaz de atingir as grandes organizações criminosas. Ainda não enxergaram isso ou realmente não há “interesse” em acabar com elas. Não conheço outro local no mundo, em situação de paz, que tem mais de 60.000 armas de grosso calibre nas mãos de marginais em regiões onde a polícia só entra com aparato de guerra. Esse é o verdadeiro Rio de Janeiro. Realmente estamos em GUERRA e alguns hipócritas não assumem. Até agora não vi a Anistia Internacional, Comissão de Diretos Humanos da ALERJ e outras ONGs aproveitadoras se manifestarem sobre a estúpida morte do Lemos. E não verei. Não se manifestarão publicamente para cobrar empenho e uma rápida elucidação desse crime bárbaro. Talvez porque ele fosse branco, pai de família, policial e não fizesse parte de partidos de esquerda, grupos de minorias e não pertencesse ao patético grupo dos “policiais antifascistas”. HIPÓCRITAS!Parte da mídia, também hipócrita, não irá cobrar a solução da sua morte, fazendo uma contagem do tempo, conforme assistimos diariamente há três meses nos noticiários.
Mas a sua morte não será em vão. Apesar de todas as dificuldades e carências, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro tem o dom de se reinventar e é composta por verdadeiros guerreiros que tem o sangue de polícia na veia. E nós mesmos iremos chegar aos responsáveis por essa barbárie. Não ficará impune!
O que fica são as lembranças dos bons momentos, grandes dificuldades, várias situações de perigo que passamos juntos, que jamais esquecei. Descanse em paz, meu irmão e amigo. Obrigado por tudo. Obrigado por toda a sua lealdade, empenho e dedicação durante todos esses anos que trabalhamos juntos. Jamais te esquecerei. Que Deus o receba de braços abertos e conforte a sua família e amigos.
Felipe Curi
Delegado de Polícia
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