Prezados leitores, transcrevemos texto de autoria do Coronel PM Ref Nelson HERRERA Ribeiro:
Capistrano de Abreu
"A CRISE DA
VERGONHA NA CARA
(Primeira parte)
”Eu proporia que se substituíssem
todos os capítulos da Constituição por um artigo único: todo brasileiro fica
obrigado a ter vergonha na cara.”
Sinto-me frustrado, porque minha
limitação intelectual não me permitiu forjar tão brilhante citação. Seu autor
foi CAPISTRANO DE ABREU (1853-1927), notável historiador
brasileiro.
Nos idos de 1984, no então Governo Brizola, ainda
major da ativa, motivado por essa frase e com incontida revolta ante o
deprimente quadro que então vivia a PMERJ, fiz publicar artigo de página
inteira na Tribuna da Imprensa, no qual discorria meu ponto de vista
sobre as nossas intrínsecas mazelas e o jogo sujo dos governantes. A seguir,
incrementei a “carreira jornalística”, voltando a artigos semelhantes no Jornal
do Brasil e O Globo, transformando-me, sem querer, em pioneiro na
luta pública em defesa dos policiais militares no Rio de Janeiro. Ilustre
pioneiro desconhecido.
Criticava, sobretudo, as péssimas
condições de trabalho: armamentos e equipamentos deficientes, desumanas escalas
de serviço, caótica assistência médico-social, precário sistema de previdência,
baixa remuneração. Ou seja, muitos deveres e poucos direitos. Curiosamente,
decorridos mais de 30 anos, nada mudou; ao contrário, os problemas
agravaram-se.
Recordo-me ter afirmado no primeiro
texto: Pairando sobre tudo isso, resta o mal maior: a crise da vergonha na
cara. A crítica mais branda foi que se tratava de “uma metralhadora
giratória”. Claro que, além da decorrente prisão disciplinar, fiquei em
disponibilidade por cerca de 3 anos, tendo ainda suportado 10 anos no mesmo
posto, apenas sendo promovido a tenente-coronel, por antiguidade, em 1991.
Recentemente, em 2012, a crise interna corporis
reacendeu-se, levada aos ventos do movimento dos bravos bombeiros militares.
Contudo havia novo e temerário componente: o açodamento de um “estado de
greve”, incompatível com os pilares de toda instituição militar no mundo – disciplina
e hierarquia.
Já coronel reformado, vendo a luta
muito digna, mas solitária, do Coronel PAUL, preocupei-me com a efervescente
crise, e resolvi quebrar o silêncio que eu mesmo me havia imposto. Além de
comparecer a reuniões de classe, tentei contribuir, já com certa experiência de
vida, redigindo o artigo “Mensagem”, que foi publicado neste blog,
por especial deferência. Recebi, entretanto, dezenas de comentários em
reprovação, tendo sido aconselhado a “não tirar o pijama”, criticado
porque “queria aparecer”, e outras aleivosias. Até fui acusado de “agente
infiltrado do Cabral”, sendo esta a ofensa maior. Mas houve também poucos
comentários elogiosos.
Então decidi impor-me novo silêncio: o
tempo é o senhor da razão. Entretanto peço vênia para aqui transcrever
importante trecho do referido artigo:
Somos
históricas corporações, dotadas de brava gente, instituições permanentes, que
não podem ser aviltadas por aventureiros inquilinos do Poder. E mais
especificamente: em ambas as nossas reuniões, diretriz alguma foi fixada para
ser posta em prática após a reação governamental; vale dizer, traçar o nosso
Plano B. O quadro dessa reação já foi desmascarado na Bahia: repelir o
movimento grevista (não permitir que “um pequeno grupo, de forma
irresponsável, cometa atos de desordem para assustar nossa população”); prover
a substituição imediata do policiamento pelo Exército e pela Força Nacional (no
intuito de restaurar a sensação de segurança, mas poderão combater fogo?);
prender seus líderes (escolhidos pelo próprio governo); obter o imediato apoio
da Justiça estadual (decretação da ilegalidade da greve, entabulando-se
expulsões de praças e violando prerrogativas estatutárias inclusive de
oficiais, com ameaça de recolhimento dos presos PM a presídios federais); e
conceder mais outro ridículo reajuste (apregoado pela mídia como substancial e
segundo a capacidade financeira do Estado). A crise, dessa forma, será desviada
em função “desses vândalos”, alegando-se que a PM, “centenária
milícia de bravos e defensora da paz, não pode permitir se transformar num
instrumento de intimidação e desordem” etc., etc. Basta ver o discurso do
governador petista da Bahia. Soa bem aos ouvidos da população e legitima a
violenta repressão. O cidadão comum, contribuinte e eleitor, não vai
apaixonar-se por nosso movimento. A ele só interessa a segurança pública
provida. Então claro está que o movimento grevista só favorecerá o governo.
Será mais outro componente para seu jogo sujo. Os mais antigos já viram esse
filme em preto e branco, agora já masterizado em novas cores por computador.
As expressões transcritas entre aspas
foram ditas por JACQUES
WAGNER, então governador
petista da Bahia, que, depois, como Ministro-Chefe da Casa Civil, foi
defenestrado do governo, junto à “organização criminosa” denunciada no governo
lulopetista, sob a batuta de JOSÉ DIRCEU e o
“desconhecimento” de LULA. Quem viveu acompanhou os
acontecimentos, mas parece até que eu era adivinho.
Errei apenas por não ter considerado
a incontida sanha do desequilibrado governador SÉRGIO CABRAL, satisfeita por seus sabujos de plantão
(entre os quais coronéis BM e PM), para praticar cruel, suja e desmedida
vingança contra os bravos bombeiros e policiais militares. Ocorreram meros
protestos da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ e da OAB/RJ e houve algumas notas de desagravo
por associações de classe. No entanto, nada foi cobrado contra as autoridades
algozes, nada foi feito pelos Comandos, surgindo adiante uma ridícula
“anistia”. Ficaram anistiados por crimes que não cometeram. Aqueles heróis de Bangu
1 deveriam ter sido promovidos e ganhado medalhas por bravura, além de público
e formal pedido de desculpas. Preferiu-se varrer a crise para debaixo do
tapete. Deu no que deu.
Atualmente, porém, constatamos algo
muito pior: a crônica complacência dos coronéis ativos e inativos, salvo
honrosas exceções, como se todos alheios à dura realidade do entorno, parecendo
ora aparvalhados e inoperantes, ora agarrados a suas vantagens de comando,
tornando-se cúmplices dos abusos dos governantes.
Hoje se vê nosso alegre ex-governador
CABRAL e sua deslumbrada esposa sob prisão
preventiva, acusados de corrupção. Ainda assim, deixou eleito seu candidato PEZÃO, o que, em suma, nada mais significa que a
continuidade do seu “desgoverno”.
Hoje se vê o Batalhão de Polícia de
Choque (BPChq) empregado de forma fracionada, atuando em missões específicas de
policiamento ostensivo, incluindo
esporádicos apoios em socorro a esse patético Projeto UPP, nascido da
mente confusa de JOSÉ
MARIANO BELTRAME,
Delegado (?) de Polícia Federal, todo-poderoso Secretário de Segurança, com
claro propósito de vitrine eleitoreira para CABRAL,
mediante ostensivo apoio da mídia comprometida. Aliás, quem pretender analisar
o tema, leia o livro “UPP – Uma farsa eleitoral”, de autoria do
Coronel PAUL, o qual tive a honra de prefaciar. Mais
parece bem elaborado Estudo de Estado-Maior.
Nos idos de 1968, no então Estado da Guanabara, num
período tomado por continuadas manifestações nas ruas, precedentes da
decretação do famigerado AI-5, quando havia embates sangrentos (haja
vista os equipamentos inadequados da PM: leve uniforme de brim, capacete de
fibra, frágeis escudo e cassetete), e ainda, por ordens militares superiores,
com a tropa desarmada (!), tive a honra de servir, jovem 2º tenente, no
então BM (Batalhão Motorizado). Depois denominado BPChq, ali também serviria já
major, sendo a tropa treinada e empregada sob técnicas adequadas ao controle de
distúrbios, missão precípua de toda Polícia de Choque em qualquer país.
Penso que esse experimento profissional me assegura habilitação bastante para
criticar o emprego de tropas de choque.
Essa deformação do BPChq também se
deve a outra obscura iniciativa do não menos obscuro Delegado BELTRAME, reforçada por sua trágica
administração e por seu completo despreparo de chefia e liderança. Mas
referendada por nossa anuência.
Diante de tamanho caos, surgem-me
vários questionamentos. Acho que não só a mim.
Como é possível, durante tanto tempo, o abissal
silêncio dos coronéis da ativa, e sobretudo dos reformados, nós todos que, por
dever de ofício, temos sobre os ombros a permanente obrigação de defesa da
Polícia Militar?
Como é possível que nós, os policiais militares
fluminenses, ameaçados até de mutilação de nossos direitos previdenciários, sem
eficaz posicionamento público do Comando, termos sido salvos por obra e graça
de valorosas atuações alheias, como a do Coronel Marco Antônio Badaró BIANCHINI, Comandante-geral da PM de Minas
Gerais e integrante do CNCG-PM/CBM
(Conselho Nacional dos Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares) ?
Como é possível nossa Polícia de Choque,
desestruturada, atuando desfigurada a esse ponto, para reprimir com
atrabiliária violência as legítimas manifestações de servidores públicos,
incluídos nossos irmãos bombeiros militares, policiais civis e agentes
penitenciários?
Como é possível não termos força política necessária
e suficiente – com lídimos
representantes de classe, destemidos, competentes, sem “rabo preso”, eleitos
pela nossa união em torno de nomes previamente referendados –, para que se
possa atuar politicamente, pelo bem comum, consoante os anseios das entidades
de classe de oficiais e praças?
Como foi possível os autodenominados “Coronéis
Barbonos” não terem sido apoiados, de forma monolítica, quando do histórico
episódio de sua traumática repressão,
tendo o corrupto governador CABRAL, em tempo
rapidíssimo, alterado até direitos estatutários, para abreviar-lhes a
inatividade, mas já contando com o apoio dos demais oficiais, movidos ao sabor
de interesses e cobiças pessoais?
Como foi possível que praças bombeiros e policiais
militares da ativa, junto a oficiais superiores inativos, terem sido jogados
nas masmorras de Bangu 1, incomunicáveis (inclusive sem acesso a
advogados), rasgando-se as Constituições federal e estadual, o Código Penal
Militar, os Estatutos dos Bombeiros Militares e dos Policiais Militares,
mediante a alarmante cumplicidade da Justiça e a leniência do Ministério
Público, mas, sobretudo, com o nosso silêncio?
Como é possível a estranha complacência de nossas
associações de classe (a pouca representatividade que ainda temos, por força da
vedação de nossos sindicatos), as quais deveriam estar unidas, oficiais e
praças reformados discutindo, em paralelo ao Comando, os problemas comuns,
exteriorizando anseios, encaminhando propostas e soluções, sob o direito
constitucional de livre manifestação de pensamento?
Como é possível que, nem mesmo ante o
insofismável quadro caótico, nossos coronéis, como chefes maiores, ainda não se
interessem para iniciar a desconstrução dessa “cultura de autofagismo”, com
base em mínimo amor corporativo, para exercitar suas obrigações de chefia e
liderança?
São indagações que carecem de
convincentes respostas.
Nelson HERRERA Ribeiro Cel PM Ref, advogado, professor."
Juntos Somos Fortes!
Bom dia!
ResponderExcluirCoronel o senhor está corretíssimo. 😐
Bom dia!
ResponderExcluirCoronel o senhor está corretíssimo. 😐
Quem ta preocupado com gratificação, com vtr com motorista a disposição, em sugar o estado em nome de uma compensação pelas aguras de uma profissão escolhida não ta nem aí. Essa é a realidade, e o apocalipse so gerará uma corrida ao meu pirão primeiro, infelizmente. E as geraçoes que cresceram vendo isso não farão diferente do que sempre viram, o que estar certo em sua reivindicação ser esmagado impiedosamente, não é coronel, o sr passou por isso. na verdade a pm faz isso com muitos, so reproduzimos esse mal.
ResponderExcluirSabe o q nao entendo,cel paul?
ResponderExcluirComo que os senhores coronéis da reserva não conseguem mobilizar seu amigos oficiais que estão na ativa.
O sr e outros foram vetranos de muitos que hj estao no poder.
Prezado Cel PM Herrera: seu posicionamento sempre foi corajoso e alicerçado na verdade. Não há como refutar suas palavras. Em 2012 lembro-me de haver compartilhado algumas reuniões ao seu lado.
ResponderExcluirJuntos Somos Fortes!