JORNAL DO BRASIL
Davison Coutinho
Há dois anos a Rocinha estava sendo pacificada, um momento histórico que apesar de amedrontar todos os moradores da maior favela da América Latina gerou uma série de expectativas de um lugar melhor e mais seguro.
Era a entrada do poder público na comunidade que não se fazia presente há décadas. A promessa era de paz e liberdade, além de uma série de ações e serviços públicos de saúde, educação e atendimento para melhoria da qualidade de vida dos moradores.
No entanto, dois anos se passaram e o sentimento de abandono continua. Tudo o que foi feito, foi apenas para a promoção da imagem autoritária de nosso governo, que foi covarde e alimentou o sonho e a esperança de todas essas famílias humildes e trabalhadores que acreditaram mais uma vez na falsa promessa de um futuro de paz.
“Com a Rocinha em evidência, o que mais vi foram as coisas saltando de preço e muita gente indo embora simplesmente por não ter mais condições financeiras de ficar aqui. Nem vou entrar no mérito da violência, senão esse texto não acaba hoje. Quantas vezes você foi questionado no seu trabalho, na escola, entre amigos, família, sobre sua opinião em relação a todas essas mudanças? E quantas vezes você ficou em dúvida sobre o que responder? Eu fiquei, muitas vezes. Hoje o meu pedido ainda é o mesmo: quero paz com justiça social”, diz Michele Silva, moradora e idealizadora do Portal Viva Rocinha.
Hoje vivemos uma situação de insatisfação ao consultar a maioria dos moradores sobre o que pensam da pacificação. Infelizmente, as respostas não são nada animadoras. A decepção é grande. Esperávamos muito mais, o social deixou a desejar, e com os últimos acontecimentos, foi-se embora a confiança.
“Hoje completam dois anos de ocupação policial. Façam as suas comparações do antes e do depois. Vejam o que prometeram e não cumpriram, e nem vão cumprir com policiais totalmente despreparados. A policia vem fazendo um trabalho precário em nossa comunidade. Nunca fizeram o social, e os policiais são ignorantes. Hoje, temos isso aí que vocês estão vendo. Observação: Cadê o Amarildo?”, questiona Rafael do Mototaxi, da liderança comunitária.
Não somos contra a pacificação, somos a favor das melhorias. No entanto, não é apenas com policiamento que vamos conseguir transformar um local antes abandonado. O caminho da educação foi deixado de lado, e esse sim era o caminho para alcançar um modelo de lugar. Nem mesmo a creche prometida foi concluída. Nossas crianças ainda precisam de sorteio para estudar, muitas das obras do PAC não foram concluídas e, para completar, o polo de educação Cederj está com previsão de se transformar em uma delegacia, delegacia essa que deveria ficar dentro da favela e não em São Conrado.
Esperamos por solução, esperamos por um novo governo que seja participativo e que atenda as nossas reivindicações com respeito.
* Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.
Juntos Somos Fortes!
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