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JORNAL EXTRA
Casos de Polícia
Juiz
de Bangu revela rotina de uma das varas criminais mais explosivas do Rio
A chegada do juiz Alexandre Abrahão em seu gabinete, na 1ª Vara Criminal de
Bangu, é precedida pela entrada de um segurança com fuzil. A cena faz parte da
rotina há quatro anos. Há oito em Bangu, "uma usina de
criminalidade", perdeu as contas de quantas ameaças recebeu. Abrahão, de
44 anos, sempre atuou em Varas Criminais e Tribunais do Júri, e passou pela
Auditoria Militar. No último dia 19 recebeu, da Câmara Municipal do Rio, a
medalha Pedro Ernesto. Pelas suas mãos, já passaram processos de traficantes
como Fernandinho Beira-Mar e Matemático.
Qual é o perfil de Bangu?
Aqui é um ponto da Zona Oeste muito interessante. Costumo dizer que Bangu é
o caldeirão de tudo, uma usina de criminalidade. São 18 presídios e o único
local no Grande Rio onde as três facções criminosas do Rio atuam em pé de
igualdade.
Quais são os principais crimes julgados aqui na vara?
Minha grande clientela é basicamente por roubo e tráfico. São 70% dos
processos por esses dois crimes. Depois, vem receptação e furto. E quase todo
dia de julgamento tenho em pauta gente que tentou entrar com drogas nos
presídios.
As Unidades de Polícia Pacificadoras aumentaram a criminalidade em
Bangu?
Sem dúvida. Com a chegada das UPPs em outras áreas, toda a criminalidade
migrou para a Zona Oeste. Já sentimos um aumento no número de roubos e
latrocínios (roubos seguidos de morte). Os roubos a transeuntes e saidinhas de
banco já cresceram muito aqui.
Há muitos casos de ameaça a testemunhas em Bangu?
Sim. Por isso, há cerca de dois anos, o Tribunal do Júri daqui foi levado
para o Centro da cidade. Eram muitas ameaças, e ficava difícil conseguir
testemunhas.
E o senhor, já recebeu muitas ameaças?
Já perdi as contas de quantas ameaças recebi e quantos planos para me matar
que já foram descobertos. Há quatro anos, o Tribunal de Justiça determinou que
eu tivesse segurança 24 horas por dia. Mas não fui eu quem pedi. A minha filha
também tem escolta.
Pela sua experiência com o julgamento de policiais, acha que a PM
precisa mudar?
Sim, mas para mudar a polícia, é preciso modificar a sociedade. Quando
criticam um policial por sua conduta, falam como se fosse um alienígena, mas
ele veio dessa sociedade que o condena. É preciso mudar a postura geral.
O senhor já condenou Fernandinho Beira-Mar. O que pode dizer dele?
Pelo que os processos retratavam, o Beira-Mar era muito agressivo, mas, no
decorrer dos anos, ele vai se tornando mais empresarial, digamos que evolui.
E sobre o Matemático, que também tinha processos aqui na vara?
Também pelos processos, vejo que o Matemático era frio, cruel mesmo. O que
me chama atenção nesses criminosos novos é essa crueldade com a qual agem.
O que de mais chocante o senhor viu na guerra dos caça-níqueis?
O que mais impressiona é a facilidade com a qual esses criminosos matam. Os
assassinatos são à luz do dia mesmo. E é criança, deficiente mental, eles não
querem nem saber. Apertam o gatilho.
Qual é a maior dificuldade para conseguir combater a criminalidade
no Rio?
No tráfico, milícia, ou na máfia dos caça-níqueis, é muito difícil chegar
aos "cabeças" dos grupos. Quanto mais poder ganham, mais conseguem se
blindar, e é difícil chegar até eles. Pegamos muitos "braços" dos
grandes, mas chegar a eles é sempre complicado.
Essa situação é frustrante?
Demais. E eu sempre digo que é a disputa do coelho com o elefante. O coelho
é o bandido, que precisa comprar uma arma e não tem burocracia, ele faz isso
imediatamente. O estado é o elefante, que tem muito mais recursos e estrutura,
mas é tudo tão burocrático que não consegue se movimentar. E aí o coelho voa.
Juntos
Somos Fortes!
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