JORNALISMO INVESTIGATIVO

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domingo, 1 de dezembro de 2013

UPP: A DIFERENÇA ENTRE PACIFICAÇÃO E PAZ NEGOCIADA COM BANDIDOS

Internet - Charge: Alex Ponciano


Prezados leitores, as polícias do Brasil sempre encontraram uma enorme dificuldade: evitar que o contato entre policial e bandido gerasse a corrupção ativa e passiva, os acordos criminosos para libertar presos e/ou para garantir que o crime se desenvolva sem que a polícia se intrometa, um salvo conduto.
Nos casos de flagrante o acordo é feito no ato, co mo se fosse um saque em um caixa eletrônico, embora existam notícias sobre pagamentos parcelados. O criminoso preso paga para ser solto. Se for um "cabeça", paga alto.
Por sua vez, para que a polícia não incomode, o crime paga regularmente, semanalmente ou mensalmente. As mesadas mais conhecidas são as pagas pelo tráfico de drogas e pelo denominado jogo dos nichos, mas toda atividade ilícita pode gerar essa simbiose polícia-bandido.
Portanto, esse é um problema histórico, eis a primeira verdade.
Nesse cenário o atual governo deu sequência as ocupações de comunidades carentes, prática que a PM utiliza há décadas (DPO, PPC, CIPOC e GPAE), mas dessa vez de forma acelerada e com aplicação de grande efetivo, para isso segue "fabricando"  milhares de jovens Soldados PM exclusivamente para colocá-los nas UPPs. Atualmente, nas UPPs existe um efetivo correspondente ao de vinte Batalhões de Polícia Militar.
Logo o governo apressou-se em anunciar que o objetivo das UPPs não era acabar com o tráfico, um absurdo completo em razão das razões expostas anteriormente.
Beltrame em uma entrevista coletiva concedida no dia 30 de novembro de 2009 declarou:
"O secretário de Segurança garantiu que as operações continuarão e lembrou os resultados positivos registrados nas cinco comunidades que já receberam UPPs. Ele ressaltou que o objetivo maior da ação não é o de acabar com o tráfico de drogas e a violência, pois existem ‘em todo o mundo’, mas garantir o direito de ir e vir da população, longe da ‘lógica do fuzil’, ‘do achincalhe de marginais exibindo armas".
A declaração foi catastrófica, demonstrando a existência de um "erro de projeto" nas UPPs. Um erro que mais cedo ou mais tarde produziria efeitos.
Polícia e bandido não podem dividir espaço, não podem conviver.
Os efetivos das UPPs devem reprimir continuadamente o tráfico de drogas nas comunidades ocupadas, recebendo o apoio que se fizer necessários. O objetivo das UPPs deve ser asfixiar por completo o tráfico nas comunidades ocupadas. Caso contrário, o PM estará sempre a um passo de aceitar a oferta dos traficantes, já que a missão não é combater o tráfico de drogas.
Não demorou para que os policiais aceitassem o "convite":

REVISTA VEJA
14 de setembro de 2011.
Crime
O escândalo da UPP: população do Rio descobre a diferença entre pacificação e paz negociada com bandidos Mesada paga a PMs dava a moradores a ilusão de tranquilidade. Repete-se a tragédia da segurança, com policiais de olhos fechados e bolsos abertos
A descoberta de um grande esquema de ‘mesada’ paga por traficantes a policiais militares da UPP dos morros do Fallet/Fogueteiro pode ser uma grande aprendizado para a política de segurança, no Rio e em todas as grandes cidades brasileiras. Pode também, se ignorada, ser a derrocada definitiva do processo de “pacificação”, que, apesar de avanços, está longe de ser algo consolidado na capital fluminense. Uma reportagem do jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira, traz um detalhe preocupante: depois da chegada da UPP nessas favelas, o tráfico e a corrupção continuaram, mas de forma ‘higiênica’, ou seja, sem danos de imagem até então para as autoridades do estado, a PM e talvez até invisível para moradores da região. A propina, dessa vez, chegava na casa do policial corrupto.
Segundo O Globo, interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça mostram que o capitão Elton Gomes e o tenente Rafael Menezes, comandante e subcomandante da UPP, recebiam a propina em casa, por meio de um emissário encarregado de transportar o dinheiro. Esse era o pagamento para que os policiais integrantes do esquema, em seus turnos, ficassem em suas bases, sem se deslocar e sem atrapalhar a venda de drogas, o movimento de armas e a liberdade com que os bandidos se mantinham circulando na favela.
No último dia 6, um sargento e dois soldados foram presos em um carro com 13,4 mil reais de origem não comprovada. Parte do dinheiro estava escondida em uma bolsa de supermercado, sob os bancos do carro. Dinheiro limpo não costuma ser carregado assim.
O sargento Rinaldo do Desterro Santos, um dos presos, é considerado o articulador do pagamento do dinheiro enviado pelos bandidos aos PMS. Ele manteve conversas com o então comandante da unidade, o capitão Gomes, e com o subcomandante, tenente Medeiros. Ambos estão afastados, e um novo policial assumiu a chefia da UPP. Ainda de acordo com O Globo, a promotora Isabella Pena Lucas disse que a propina do tráfico para os policiais chegaria a 70 mil reais por mês.
A contrapartida do cofre abastecido com o dinheiro dos bandidos era uma postura leniente em relação às ações criminosas. Dito e feito. Os policiais chegavam a não circular pelas favelas, ficavam fixos na base da UPP, para não incomodar a venda de drogas. As noites de sexta, sábado e domingo eram os principais momentos de fazer vista grossa e de manter-se longe desse comércio ilegal.
Em uma das interceptações, Rinaldo diz: “É para ele ficar quieto, paradinho na base”. O sargento foi preso no último dia 6 de setembro, juntamente com os soldados Gilmar Macário e Alexandre dos Santos. Nesta quarta, o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou que os policiais envolvidos no esquema de propina será afastado da corporação. “Vamos punir e colocar essas pessoas na rua e prosseguir com o trabalho (das UPPs)”, afirmou.
O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, tentou separar o joio do trigo. Mário Sérgio comemorou o fato de ter identificado os PMs que mataram a juíza Patrícia Lourival Acioli, em Niterói. Segundo ele, havia o risco de todo o 7º BPM (São Gonçalo) ser confundido com um grupo de criminosos. Ainda não está claro se há mais policiais envolvidos naquele crime, mas, para o comandante, a bandidagem ali pode estar isolada.
O coronel, prudentemente, também separou os dois tipos de policial nas UPPs. “Há 60 dias vínhamos investigando (o caso da propina na UPP). Policial que cometer crime vai para a porta da rua”, disse.
Quem nada disse sobre isso, apesar de ter falado bastante, foi o governador Sérgio Cabral. A cerimônia era para premiar os policiais que atingiram as metas da Secretaria de Segurança. Cabral, nesse caso, preferiu ater-se aos fatos positivos e aos méritos que ele próprio enxerga em sua gestão. Sobre corrupção, calou-se.
O escândalo da mesada na UPP que deveria levar tranqüilidade aos bairros de Santa Teresa, parte do centro, Cosme Velho e Laranjeiras – os dois últimos na zona sul – revelou-se um exemplo de como a criminalidade pode receber maquiagem. Uma unidade da polícia que recebe dinheiro do tráfico para se manter eu sua base funciona, na prática, como uma equipe de seguranças para os traficantes, mantendo longe dali os bandidos inimigos e os demais policiais – afinal, a informação oficial vai ser sempre de que a situação está sob controle.
Essa é, com pequenas diferenças, a história resumida da tragédia da segurança pública no Rio, com traficantes se fortalecendo nos períodos em que a polícia fechou os olhos e abriu os bolsos para a corrupção.
(Com reportagem de Cecília Ritto e Rafael Lemos)
Juntos Somos Fortes!

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