JORNALISMO INVESTIGATIVO

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sábado, 11 de agosto de 2012

PISTOLAS HARPERS FERRY E/OU PISTOLAS WOLF - PROFESSOR ROMEU KARNIKOWSKI


PISTOLAS HARPERS FERRY E/OU PISTOLAS WOLF

Com a consolidação do Estado-nação ao longo do século XIX, ocorreu a profissionalização efetiva dos integrantes das forças armadas dos países em razão da massificação dessas forças que foram divididas em forças de terra e dos mares – no século XX as forças aéreas. Diante disso, as forças de terra passaram a ser divididas em exércitos, corpos-de-exército, divisões, brigadas, regimentos e batalhões. Nessa esteira ocorreu também a especialização das armas: cavalaria, infantaria, artilharia, intendência, corpo de saúde e por fim as polícias militares. No sentido de distinguir uma das outras cada arma adotou um símbolo específico, tal como no Brasil, onde a cavalaria adotou duas lanças cruzadas, a infantaria dois fuzis cruzados com uma granada no centro, artilharia com a bomba armada, a intendência a folha de acanto e assim por diante. Mas a origem do símbolo mais característico das polícias militares do Brasil, as “garruchas cruzadas de metal amarelo”, está nos campos de batalha da Itália em 1944. Durante algum tempo, no entanto, esse fato permaneceu em certa obscuridade de onde originou nomes dispares com objetivo de designá-las: a Polícia Militar de São Paulo passou a designá-las romanticamente de “pistolas bucaneiras” e a Brigada Militar erroneamente de “pistolas Clark” em alusão ao controvertido tenente-general Mark W. Clark (1896-1984) que comandou o 5º Exército norte-americano na Itália, na qual a FEB estava subordinada. Na verdade não é nem uma e nem outra o nome correto dessas pistolas, pois quando a FEB a adotou como símbolo para o seu pelotão de polícia militar – o que era uma exigência do Alto Comando americano, essas pistolas cruzadas já eram símbolos da Military Police do Exército americano. As circunstâncias em que o Pelotão da Polícia Militar da FEB foram criadas é descrita pelo excelente historiador Joaquim Xavier da Silveira. “A organização de uma unidade para atuar com função de polícia militar foi uma das exigências ditadas pela necessidade de adaptar o Exército brasileiro à nova estrutura que permitiria à tropa operar em combate. Como se tratava de tropa especial, teve de ser criada...Em 5 de fevereiro de 1944, por boletim especial do Exército, o Pelotão de Polícia começou ser organizado, inicialmente com elementos do 3º RI – sua estrutura organizacional seguia a linha do modelo americano Military Police Platoon. Algum tempo depois, o Diretor da Guarda Civil de São Paulo colocava a disposição da 1ª DIE todo o seu pessoal para que dela saísse o contingente principal do Pelotão de Polícia. O oferecimento foi aceito...O Pelotão de Polícia foi então organizado em sua maioria com elementos oriundos daquela conceituada corporação policial e desde o começo se destacou do resto da FEB: uniforme bem cortado, aparência marcial e um perfeito treino para o exercício da missão a que estava destinado.... Os membros do Pelotão tinham características que os distinguiam do resto da tropa da FEB. Na gola do uniforme, ostentavam um distintivo “duas garruchas cruzadas” em metal amarelo, uma braçadeira azul-marinho com as letras MP (Military Police). No capacete, havia uma bandeira brasileira no centro, tendo dos lados as letras M à direita e P à esquerda, envolvendo o capacete duas faixas amarelas e atrás o distintivo do V Exército.” (SILVEIRA: 2001, pp. 102-103). Antes disso, o Governo brasileiro (Exército) determinou, através do Aviso nº 1.840, de 11 de julho de 1944, que o símbolo do Pelotão de Polícia Militar da FEB seria as “garruchas cruzadas” idêntico ao usado pela Military Police do Exército americano. 


O Exército brasileiro, antes da FEB, não tinha um “corpo de polícia” interno, como acabou sendo criado depois da Segunda Guerra Mundial com a designação de Polícia do Exército por esforço férreo do general Zenóbio da Costa. O Exército dos Estados Unidos criou a Military Police em 1922, por ação do general-de-Exército (cinco estrelas) John Joseph “Black Jack” Pershing (1860-1948), considerado founding father (pai criador) da Military Police do Exército americano e o instituidor das Pistolas Cruzadas em metal amarelo, denominadas “Pistolas Harpers Ferry” modelo 1805, como símbolo dessa nova divisão daquele exército. Harpers Ferry era em homenagem a cidade encravada nas montanhas do Estado da Virginia Ocidental, que desde 1794, por determinação do então Presidente George Washington, nela se instalou uma das principais fábricas de armas daquele país. Inclusive o símbolo dessa cidade – postas em pedestal gigante na sua entrada – é as pistolas cruzadas modelo 1805. Como podemos ver quando o Pelotão de Polícia Militar da FEB – mais tarde Polícia do Exército – adotou as “pistolas cruzadas” como seu símbolo, tal como era adotado pelo Exército americano, ele já era denominado “Harpers Ferry”. Nesse sentido, o que o controvertido e discutido general Mark W. Clark tem haver com esse símbolo? Nada. Além do mais o então tenente-general Mark Clark exerceu o comando do 5º Exército de forma muito polêmica, embora depois da guerra ele fosse condecorado pelo Governo americano. Mas os estudiosos militares, destacadamente, os especialistas na II Guerra Mundial, têm sido cada vez mais críticos para com ele. A sua lânguida participação no frustrado desembarque e operações em Ânzio, o criticado e feroz bombardeio da Abadia de Monte Cassino e, principalmente, a sua entrada triunfalmente inútil em Roma, permitindo que o 10º Exército alemão se retirasse para o norte onde firmou sólida posição na linha Gustav, o que posteriormente custou muitas vidas de soldados aliados. Por tudo isso, ele é considerado o pior general aliado da Segunda Guerra Mundial – dentre os comandantes de grandes unidades. Diante disso, designar as “pistolas cruzadas” de Clark não tem sentido algum e nem ao menos presta uma homenagem ao verdadeiro instituidor desse símbolo que foi o general J. J. Pershing. Não resta dúvida que o nome das “Pistolas Cruzadas” em metal amarelo, que vem a ser o símbolo das polícias militares brasileiras, tem origem na Military Police Corps do Exército dos Estados Unidos, instituída pelo general Pershing em 1922, como emblema dessa arma, com o nome de Harpers Ferry. Dessa forma, essas pistolas cruzadas foram adotadas pela FEB, como símbolo do seu Pelotão de Polícia Militar (Military Police), sendo que essa unidade está na origem da Polícia do Exército – criada por determinação do  então general-de-exército Euclides Zenóbio da Costa (1893-1962) – chegando mais tarde às polícias militares. Como podemos ver o general Clark não tem nem sombra a ver com a existência desse símbolo e nem a responsabilidade no fato do Pelotão de Polícia da FEB passar a usá-lo como sua característica. Por outro lado, se tiver que dar um nome diferente de Harpers Ferry – que é o seu nome original e verdadeiro – podemos sugerir uma justa homenagem, condicionando ao abrasileiramento desse símbolo, dando o nome do maior herói da FEB que é o sargento Max Wolf Filho (1911-1945). Portanto, se tiver que dar um nome, que não seja Harpers Ferry, às “Pistolas cruzadas” em metal amarelo, que seja o nome do sargento Max Wolf que tombou em combate no dia 12 de abril de 1945, comandando uma patrulha. É importante ressaltar que esse soldado sem igual, era policial, integrante da Polícia Municipal do Rio de Janeiro, sendo comandante dos famosos “carro-de-assalto”. Max Wolf era antes de tudo um policial. Se as “Pistolas cruzadas”, símbolo mais característico das polícias militares do Brasil, passassem a ser denominadas “Pistolas Wolf”, seria uma homenagem mais que justa e correta ao maior herói da FEB, morto em combate na defesa da sua pátria, da democracia e de seus soldados e que era acima de tudo um policial, profissão que certamente contribui para fazer dele o mais glorioso soldado brasileiro que lutou nos campos de batalha da Itália. Esse nome tem consistência e honra para receber uma homenagem dessa envergadura e não o controvertido e sombrio general Clark que nada tem haver com as nossas polícias militares muito menos com os seus símbolos. Em suma, dar o nome das “Pistolas cruzadas” de Max Wolf é acima de tudo uma homenagem às polícias militares do Brasil, cujos integrantes lutaram bravamente na Campanha da Itália.
Bibliografia:
OLIVEIRA, Dennison de. Os Soldados Alemães de Vargas. Curitiba: Juruá, 2010.
SILVEIRA, Joaquim Xavier da. A FEB por um Soldado. Rio de Janeiro: Bibliex; Expressão e Cultura, 2001.
Romeu Karnikowski
Professor e Pesquisador PNPD da PUC/RS
Juntos Somos Fortes!

2 comentários:

  1. Agora ficou claro como água cristalina o porquê de uma Polícia Militar brasileira tão empenhada em defender o título e os dogmas militares: POLÍCIA MILITAR. Esqueceram, porém, a Military Police é uma espécie de Polícia do Exército (PE) dos Estados Unidos da América, e não uma instituição defensora da cidadania.

    Parece piada, pois sempre esbravejei que brasileiros adoram copiar os americanos... mas resistem em copiar o modelo de polícia deles. Se usar uma força policial militar para lidar com os patriotas capitalistas fosse bom, eles teriam a própria PM.

    Mas não têm, né?
    Lá, nos Estados Unidos, não existe uma polícia militar para fazer o serviço de prevenção ao crime (polícia ostensiva), mas sim uma unidade da polícia "composta por civis" uniformizada. A tal Military Police é parte do Exército americano em missões cujo sujeito cliente do serviço é militar do mesmo Exército preparado para a guerra com indivíduos estrangeiros...Faz todo sentido!

    "E não adianta fazer piada com os portugueses porque nessa eles não tiveram participação alguma... é cagada genuinamente brasileira!"

    Sgt Foxtrot

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  2. TEXTO MUITO BEM ELABORADO E DE EXCELENTE COMPREENSÃO. PARABÉNS!

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