Prezados leitores,
ontem eu compareci ao Quartel General da PMERJ, o Quartel dos Barbonos, onde
estive na Diretoria Geral do Pessoal (DGP) para tratar de assuntos de interesse
profissional. Devo destacar a fidalguia com a qual fui tratado por todos com os
quais tive contato. Nada mais natural pensaram todos, considerando que sou
Coronel PM Reformado, mas a recepção nem sempre aconteceu dessa forma cortês
por parte de alguns, isso em razão de eu ser considerado um inimigo político do
governo. Sim, sou um crítico contumaz do governo Cabral sempre que as suas
ações políticas prejudicam a bicentenária Polícia Militar que defendo com o amor
corporativo aprendido em mais de trinta anos de serviço e defendo também por
dever, tendo em vista que sou um Oficial do último posto da corporação, portanto,
um dos responsáveis pelo destino institucional.
Na DGP ouvi sábias
palavras do diretor, Coronel PM Souza, quando ele explicava que a legislação
deve ser analisada de forma sistêmica, para que se entenda a lei como um todo,
não se analisando os artigos de forma isolada.
Análise sistêmica é exatamente
isso que falta aos que defendem a desmilitarização das Polícias Militares como
uma solução para melhorar o ineficiente sistema policial brasileiro. Focam no
tema e não analisam o sistema. Um erro grosseiro.
O problema é o sistema
policial, concebido para dar errado, como demonstrei em vários artigos postados
nesse blog e não o modelo organizacional das Polícias Militares.
Lembro que aos
desavisados que desmilitarizar as Polícias Militares significa na prática acabar
com as corporações e sou forçado também a reavivar a memória dos que defendem a
desmilitarização como solução que não conseguiremos “acabar” com os Policiais Militares,
eles continuarão existindo com todo ferramental de conhecimentos assimilados
nos anos de serviço, nem conseguiremos desmilitarizá-los ou desmilitarizar suas
ações da noite para o dia. Os atuais Policiais Militares continuarão por muito
tempo agindo como fazem no presente. Isso é fato. Deve ser considerado na
avaliação.
Os que querem
desmilitarizar (eliminar) as Polícias Militares não conseguem explicar como
solucionaremos a situação exposta no parágrafo e nem apresentam uma motivação
efetiva, uma justificativa concreta, para por fim a organização militar dos azuis.
Convido a todos e a
todas para promoverem uma buscarem na memória para apresentarem o(s) motivo(s)
que podem ser apresentados como determinantes para desmilitarizar.
Antecipadamente, cito
os mais comuns nos debates.
1)
As
Polícias Militares são frutos da denominada ditadura militar e atuaram na
repressão.
Quem
defende isso esquece que a quase totalidade dos atuais Policiais Militares não participaram
desses atos, assim como, a maioria dos atuais Policias Federais e Policiais
Civis, pois integrantes dessas instituições também integraram o aparado
repressivo. Se o motivo for esse, o que fazer? Acabar com todas as polícias?
2)
A corrupção na Polícia Militar.
Bem,
se nós resolvermos acabar com as instituições públicas onde a corrupção existe,
acabaríamos não apenas com todas as polícias brasileiras, mas com todas as
instituições públicas.
3)
As Polícias Militares são ineficientes
no cumprimento de suas missões.
Novamente,
quem usa esse argumento não sabe como são igualmente (ou mais) ineficientes as
Polícias Federais e Civis. Acabaremos então com todas?
4)
A Polícia Militar é violenta.
Lamento,
mas sou forçado a citar que as Guardas Municipais, por exemplo, não são
organizadas militarmente, mas são extremamente violentas quando reprimem
ambulantes nas ruas ou quando atuam em reintegrações de posse. As Polícias Civis,
não organizadas militarmente, também demonstram extrema violência quando atuam
em comunidades carentes. Imagens não faltam para comprovar essas verdades. Se o
motivo for a violência será o fim das Polícias Militares e Civis, além das Guardas
Municipais?
5)
O militarismo é composto por
regulamentos arcaicos, o que afeta a relação entre Oficiais e Praças,
prejudicando o serviço policial.
Eis
uma verdade, a Polícia Militar do Rio de Janeiro, citando um exemplo, precisa urgentemente
rever toda sua legislação básica, adequando à nova ordem constitucional, inclusive
para garantir os direitos dos Policiais Militares, rotineiramente violados
interna e externa corporis. Sinceramente, não posso considerar que isso seja um
motivo justo para acabar com as Polícias Militares, basta uma adequação. Quem acha que os Praças têm problemas com os Oficiais, procure saber os problemas que a "tiragem" das Polícias Civis têm com os Delegados.
6)
Os Policiais Militares têm demonstrado
despreparo (desqualificação) quando atuam nos protestos que estão ocorrendo nas
ruas.
Eis
outra realidade inquestionável, mas os Policias Civis também têm demonstrado igual
falta de preparo no que diz respeito a investigar a atuação dos criminosos que
agem nesses protestos, como demonstram as estatísticas apresentadas sobre o
número de presos e de processados, considerando o vandalismo generalizado.
Diante de tal quadro, devemos acabar com as Polícias Civis e Militares?
7)
No mundo a maioria das polícias não é
organizada militarmente.
Verdade,
mas existem polícias organizadas militarmente em outros países que são muito eficientes,
portanto, a organização militar não é fator determinante para a ineficiência,
não justifica acabar com as Polícias Militares em face do seu modelo
organizacional.
8)
As Polícias Militares não realizam o
ciclo completo de polícia.
Nem
as Polícias Civis. Aliás, uma ideia para começar a mudar o sistema policial
ineficiente parte exatamente desse ponto. Adotar o ciclo completo para as
Polícias Militares e Civis, cada polícia atuando em uma parte do estado
(divisão geográfica).
Certamente, caro
leitor, você poderá elencar outros motivos, mas procure analisar de forma
sistêmica todos que conseguir lembrar, ou seja, verifique se o problema não
abrange toda a estrutura do sistema policial.
Avalie os resultados da
extinção das Polícias Militares sobre o sistema como um todo. Procure conceber como
será a nova polícia que surgirá com o fim das Polícias Militares e a
incorporação dos Policiais Militares às Polícias Civis.
Pense.
Não se deixe conduzir.
Pior que não mudar é
mudar para pior, lembre-se.
Não defenda a desmilitarização
das Polícias Militares em razão do uso nos protestos das bombas de efeito
moral, da cavalaria, dos cães, das balas de borracha e dos gases, as polícias
de todo mundo usam esses recursos para o controle de distúrbios civis e a
maioria delas não é organizada militarmente.
Juntos Somos Fortes!
Concordo com você que desmilitarizar a polícia não tem real motivo. Esse discurso só tem ganhado força dado as manifestaçãoes, o que eu sempre defendo é que a polícia apenas age em prol da ordem pública e da segurança. Elementos isolados não devem ser levados para o lado generalista, como o caso dos policiais que torturaram Amarildo. Porém, como alguém que acredita no governo de Cabral, eu devo dizer que acredito que existe uma tentativa muito positiva de mudar a imagem da polícia e transformar ela em algo melhor para a sociedade. Foram anos de abandono das corporações como nos governos de Garotinho e Allencar, mas eu não posso negar que houve uma melhora de alguns ano para cá devido a Cabral.
ResponderExcluirAinda não vi nenhum oficial defendendo a desmilitarização. Nem poderia pois o militarismo na polícia os beneficia e muito. Já os praças são na maioria massacrados e humilhados por alguns oficiais que se acham deuses acima de tudo e de todos. Já sofri muitas injustiças e prisões arbitrárias. Por isso sou a favor da desmilitarização.
ResponderExcluirGrato pelos comentários.
ResponderExcluirPrezada Tereza, respeito o seu gosto pelo governo Cabral, isso é um direito inalienável. Todavia, infelizmente, esse governo que você apoia está destruindo a PM. Agigantando e desqualificando a PMERJ.
Concordo. A maioria dos Praças é a favor da desmilitarização, mas muitos Oficiais também são. O problema é como isso será operacionalizado. Se você tiver uma proposta para a nova polícia, após o fim das PMs, por favor, coloque em algumas linhas, eu publicarei no blog.
Juntos Somos Fortes!
O problema não está na militarização e sim no relativismo que está destruindo a hierarquia e a disciplina. O que qualquer pessoa normal espera, seja ela adulta ou criança, é que, ao avistar um policial fardado, sinta-se segura. Se sentir medo, desconfiança ou pavor, é razoável afirmar que há algo de podre no reino. Declarar-se a favor da desmilitarização quer dizer "tirar o sofá da sala" Tire-se a farda do PM e tudo se resolve num passe de mágica. Ora! Pois! A militarização se apoia nos pilares da hierarquia e da disciplina; e estes dois pilares são assentados no terreno sólido da honra e da dignidade - e não esqueçamos de falar em competência. Qualquer ato de corrupção, moral ou de pecúnia, leva tudo para o campo da lama e conspurca a farda. Claras vestes, eis a questão. Não creio que haja alguém com força suficiente para prejudicar a gloriosa PMERJ; só temo a tibieza dos que dormem no berço dos privilégios. O policial é o herói, não o vilão. De resto, segundo diz Dante Alighieri, aí na net, os lugares mais quentes do inferno são reservados para aqueles que, em tempo de crise, se mantêm neutros.
ResponderExcluirCaro Cel quando o senhor fez o comentário de que o governo estaria destruindo a polícia, logo pensei: Não seria os Oficiais que estariam destruindo a polícia militar? antes que me responde gostaria que soubesse que não sou praça e sim um jovem aspira, porém, percebo que aqui na PMERJ, há diversos interesses que , com certeza não traz um beneficio efetivo para a tropa, pois se nós oficias visássemos as necessidades da tropa teríamos um ambiente melhor de trabalho, pois vejo que aqui não temos amigos, temos homens com medo de nós que vendem o próprio companheiro para serem beneficiados com escalas e serviços. Bom , meu pensamento é esse e lembrando o quão é difícil mudar o pensamento dos mais antigos, pois lembro que o senhor passou por aqui e nada mudou também. De todo modo, um abraço para o senhor !
ResponderExcluirGrato pelos comentários.
ResponderExcluirAnônimo (25 OUT) - Concordo com sua explanação. É lamentável o silêncio dos que deveriam ser os primeiros a erguer a voz em defesa da PMERJ. Também não creio que ocorra a desmilitarização.
Anônimo (26 OUT) - Concordo, a omissão dos Oficiais é uma verdadeira catástrofe. Penso que é melhor escrever que o governo está destruindo a PMERJ com o apoio dos que não a defendem e deveriam ser os primeiros a lutar por ela. Sim, parece que muitos querem impor o respeito pelo temor e não pelo exemplo. Eu não nunca fui um omisso, nem como Aspirante. Pesquise sobre a luta dos Coronéis Barbonos e conhecerá algo inédito nas PMs de todo o Brasil.
Juntos Somos Fortes!
Eu defendo o governo do Cabral porque eu acredito no projeto dele. Eu sei que você defende a PM por ter sido pate dela muitos anos, mas eu mantenho meu ponto de que o governo tem muitos projetos relacionados a melhorar a polícia.
ResponderExcluirSenhora Tereza, exerça o seu direito de defender quem quiser. Eu conheço bem os problemas criados pelo governo Cabral na área da segurança pública, portanto, cumpro o meu dever de cidadão e de Coronel PM.
ResponderExcluirJuntos Somos Fortes!