JORNALISMO INVESTIGATIVO

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domingo, 17 de novembro de 2013

RIO: O OCASO DO SECRETÁRIO BELTRAME

(foto Revista Alfa)
Beltrame aprendeu a colar sua imagem no lado da PM 
que era bem visto pela população: o BOPE e as UPPs


O ocaso vivenciando pelo secretário Beltrame não é novidade para ninguém que atua na área da segurança pública, quer seja como policial, estudioso ou jornalista. Era uma consequência lógica de uma verdade midiática: não existe blindagem total e nem blindagem eterna.
O declínio acentuadíssimo do próprio governador Sérgio Cabral é uma prova dessa verdade, ele que foi super blindado.
Escudado em uma boa assessoria de imprensa com quem deve ter aprendido a regra política de faturar tudo o que dá certo, aparecendo em todos os lugares e a se calar quando as coisas vão mal, sumindo de cena, Beltrame surfou esses anos na onda do sucesso das UPPs promovido pela grande mídia, a qual por muito tempo omitiu da população os evidentes efeitos negativos do processo de implantação das UPPs.
Ele conseguiu manter oculto do conhecimento público algo que saltava aos olhos de todos: o processo de municipalização da segurança pública (a gestão é estadual), investindo milhares de PMs apenas na Capital. Beltrame foi na prática um secretário municipal de segurança.
Nem o fato de ter nomeado cinco Comandantes Gerais da PM e três Chefes da Polícia Civil, em seis anos, uma rotatividade que nunca aconteceu em qualquer outro estado do Brasil, respingou nele, mostrando Beltrame como um mau gestor, alguém que no mínimo não sabe escolher assessores de primeiro escalão. A culpa ficou sempre no andar de baixo.
O problema nunca foi o fato de implantar UPPs, colocar a PM nas comunidades, isso sempre foi feito dentro do possível, mas sim a forma como isso foi feito e a qual preço.
A facilitação dos concursos para Soldado PM; o agigantamento da Polícia Militar (o que não permite bons salários); a desqualificação da formação dos Soldados PM; a logística precária tanto em termos de instalações, quanto de equipamentos e armamentos no processo de instalação das UPPs; a corrupção nas UPPs; a violência nas UPPs e, sobretudo, a transferência dos traficantes com suas armas de guerra das regiões ocupadas por UPPs para outros bairros e municípios, foram alguns dos sérios problemas que foram colocados embaixo do tapete.
Um dia a blindagem seria furada, como ocorreu com Cabral.
Nos últimos meses começaram a levantar o tapete.
O super secretário vive o seu fim de festa, embora parte da grande mídia ainda queira mantê-lo no topo, o que reforça a nossa opinião sobre a boa qualidade de sua assessoria de imprensa. Parabéns!
Eis uma parte de sua entrevista ao Estadão, onde admite a transferência de criminoso, mas coloca a culpa na polícia. Isso ele também deve ter aprendido com a assessoria de imprensa: a culpa nunca é dele. 
O ESTADÃO 
'O tráfico sentiu o golpe e agora busca alternativas' 
Secretário admite 'alguma migração' de criminosos por causa das 34 UPPs no Rio 
17 de novembro de 2013 
MARCELO BERABA, WILSON TOSTA, RIO - O Estado de S.Paulo 
Os últimos seis meses foram difíceis para o gaúcho José Mariano Benincá Beltrame, de 56 anos, secretário de Segurança do Rio desde 1.º de janeiro de 2007 e chefe de um dos projetos-chave do governo Sérgio Cabral Filho (PMDB), o das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). 
Desde junho, o setor que o delegado da Polícia Federal comanda foi duramente submetido à prova por uma sucessão de problemas, crises e pressões. As manifestações de rua, marcadas pela violência, se estenderam até outubro, com acusações à Polícia Militar que variaram da omissão ao abuso. Na Rocinha, o desaparecimento do auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza após ser preso virou um sombrio caso de sequestro e morte sob tortura perpetrado por PMs. 
Recentemente, os índices de criminalidade voltaram a crescer depois de longo período de declínio: em agosto de 2013, os homicídios subiram 38% sobre o mesmo mês do ano passado. Apesar das dificuldades e de se dizer cansado, Beltrame, pela primeira vez, admite que, se for convidado, pode permanecer no cargo. 
Nos últimos meses, Beltrame também precisou resistir a pressões para transferir o título eleitoral de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para o Rio, para tentar um cargo eletivo pelo PMDB no Estado. 
Outra modificação importante foi a admissão pelo secretário de que "alguma migração" de criminosos da capital, por causa das 34 UPPs em comunidades pobres, pode ter causado aumento da criminalidade em cidades vizinhas. Beltrame afirma ainda que as passeatas representaram um fato totalmente novo para as polícias, até mesmo pelo uso, por manifestantes, de coquetéis molotov e outras armas, e questiona a ideia de que possam ser enfrentadas por meio de procedimentos "manualizados". "Eu já disse, até mesmo eu gostaria de estar na manifestação, com umas plaquinhas", brinca, sem revelar o que escreveria. 
Depois de meses de queda, a criminalidade voltou a subir com força no Rio. O que está havendo? 
Tivemos, sem dúvida nenhuma, uma ação forte (da polícia) na capital. Tivemos uma opção pela UPP e também pelo controle de metas. Tínhamos de atacar essas duas frentes. Agora, o crime também, em uma cidade grande, pode buscar novas formas, outras alternativas. (Houve) Um pouco de migração (da criminalidade), pode ter também aí falha policial, falha na investigação, pode ter falha na supervisão, pode ter uma série de outros problemas. Mas o tráfico sentiu o golpe e pode estar procurando alguma outra maneira de suprir isso.
(...)
Procede a avaliação de que com as UPPs na capital houve uma grande migração de criminosos para municípios próximos, ao mesmo tempo em que tirou policiais dessas regiões? O quadro não é bem assim. Houve migração? Houve. Qual é o nosso calcanhar de Aquiles? É medir o tamanho dessa migração. As pessoas falam em migração e parece que chegaram cinco ônibus de bandidos em um lugar e tomaram conta. Só para ter uma ideia: em Niterói, tivemos, de janeiro a julho, em torno de trezentos e poucos presos... Trinta e poucos eram do Rio (Leia mais)".
Juntos Somos Fortes!

Um comentário:

  1. Mesmo com todos os problemas vejo que as UPPs trouxeram algo diferente em nosso Estado.

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