O GLOBO:
CRISE PODE TIRAR CABRAL DOS PALANQUES ELEITORAIS.
Redução da agenda pública sinaliza que o governador será discreto em campanha.
RIO - Dias atrás, um político da Baixada Fluminense ligou para o
governador Sérgio Cabral (PMDB) e o convidou para a inauguração de uma
unidade de ensino profissionalizante na região. Pelo alcance social do
projeto, seria um discurso fácil, mas Cabral refutou.
— Por enquanto, quero ficar quietinho — agradeceu.
A
10 dias do início das convenções que definirão os candidatos a prefeito
dos municípios fluminenses, o gesto do governador fortaleceu uma
convicção que prospera entre aliados: Cabral, cuja agenda pública
minguou com a crise envolvendo a empreiteira Delta, será um eleitor
discreto em outubro e praticamente não subirá em palanques.
Em
lugares como Duque de Caxias e Nova Iguaçu, onde haverá disputa entre
partidos da base governista, a ausência de Cabral era esperada antes
mesmo da crise. Porém, até nos municípios onde os aliados marcharão
juntos, como na capital, o governador deverá manter distância.
Antecipando-se, o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, começou
discretamente a mudar o eixo da campanha, que abandonou a bandeira da
parceria município-estado-União para destacar obras de sua
administração.
A inauguração de uma UPP no Complexo do Alemão
evidenciou o ânimo do governador à exposição pública. Confrontado com
uma pergunta sobre a CPI do Cachoeira, reagiu rispidamente, acusando o
repórter de faltar com o respeito. Os aliados, que apostavam na força de
Cabral para alavancar candidaturas, hoje estão inseguros de levá-lo aos
palanques.
Provável candidato à sucessão estadual em 2014, o
vice-governador Pezão perderá, com o recolhimento de Cabral, a
oportunidade de ganhar mais visibilidade. Seus potenciais adversários
não ficarão parados. Enquanto o senador Lindberg Farias (PT) turbina uma
agenda de cabo eleitoral de luxo nos quase 40 municípios onde os
partido terá candidatos próprios, o ex-governador e deputado federal
Anthony Garotinho (PR) promete lançar candidatos próprios em 70
municípios. Na capital, a filha, deputada estadual Clarissa Garotinho,
será vice na chapa de Rodrigo Maia (DEM).
Cabral, procurado, não quis se manifestar.
Para escapar da CPI, Cabral recorre a Aécio
No
recolhimento forçado, Cabral causou pelo menos duas surpresas aos
aliados. A primeira foi a iniciativa de reaproximar-se do deputado
federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com quem mantinha relação conflituosa.
Durante a crise, os dois se encontraram. Foi a Polícia Civil de Cabral
que, há três anos, colheu a voz de Cunha em gravações telefônicas
durante a Operação Alquila, lançada para investigar um esquema de fraude
fiscal envolvendo a Refinaria de Manguinhos. O grampo custou a Cunha a
dor de cabeça de enfrentar um inquérito no Supremo Tribunal Federal
(STF). Agora, o mesmo Cunha se movimenta para tentar blindar o
governador nos desdobramentos da CPI do Cachoeira.
A segunda
surpresa foi uma inesperada visita à deputada estadual Cidinha Campos
(PDT-RJ), que recuperava-se em casa de uma cirurgia. Quem conhece a
rotina do governador, sabe que nunca sobra tempo na agenda para receber
parlamentares. Paulo Duque, que o substituiu no Senado Federal quando
Cabral concorreu ao governo, em 2006, reclamava na época de só ter
recebido um único telefonema do governador, embora tivesse sido leal e
não mudado um único funcionário do gabinete.
Cabral também usou o
deputado federal Leonardo Picciani (PMDB) para acompanhar de perto todos
os movimentos da CPI. O parlamentar é filho de Jorge Picciani,
ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, de quem Cabral até então
mantinha divergências quanto ao rumo do PMDB nas eleições do Rio. O
governador também recorreu ao senador Aécio Neves (PSDB). O tucano
convenceu três dos cinco integrantes do partido a votar contra a
convocação de Cabral para depor na comissão. O peemedebista foi
dispensado da CPI por 17 votos a favor e 11 contra.
— O Aécio foi fundamental neste processo — disse um aliado de Cabral.
Na
capital, os adversários do prefeito Eduardo Paes estão divididos sobre
usarem ou não na campanha eleitoral fotos e vídeos divulgados em abril
por Garotinho onde aparecem Cabral e secretários estaduais — alguns
deles flagrados dançando com guardanapos na cabeça — em passeios e
jantares em restaurantes de luxo em Paris, em 2009.
— Não adianta
agora o Paes dizer que não tem nada a ver com Cabral. Eles têm o mesmo
projeto de poder. As imagens (de Paris) serão mostradas no meu programa,
mas sem baixarias — disse o deputado estadual Marcelo Freixo,
pré-candidato a prefeito pelo PSOL.
Já Rodrigo Maia, do DEM, afirma não querer a “política do confronto”, apesar de ter Garotinho como aliado:
Juntos Somos Fortes!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Exerça a sua liberdade de expressão com consciência. Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste blog.