Eu escrevi o artigo "Coronéis PM de Pijama - Convocação" (Leia) e, como de hábito, encaminhei para os integrantes da minha lista de e-mails.
O objetivo central do artigo era levar à reflexão os inativos, não apenas os Coronéis, em face da necessidade de não desistirmos de lutar pela Polícia Militar, defendendo sua identidade e seus valores. Penso que isso seja imprescindível em razão das dificuldades enfrentadas pelos ativos para enfrentar os desmandos políticos em desfavor da PMERJ e da própria população, embora não considere elas como justificativa, pois foi durante o serviço ativo, no exercício de funções extremamente relevantes, que os "Coronéis Barbonos" se ergueram em defesa da corporação e dos seus integrantes.
Não os justifico, mas os entendo.
Eis que entre as respostas que recebi através de emails, ganhei de presente um texto escrito em 2008, por um amigo recentemente adquirido, o Coronel Av Ref Luís Mauro, com quem tive o prazer de conversar no Clube de Aeronáutica, dias atrás.
O artigo é imperdível, muito melhor que o escrito por mim, retrata a necessidade dos inativos agirem, pois tem o cuidado de destacar a união que devemos buscar (ativos e inativos) para alcançarmos a salvação, caso contrário, seremos "devorados".
O vídeo é uma aula. Aliás, devia ser usado em todas as escolas civis e militares.
Eis o artigo:
"Aprendendo com os Búfalos
Luís Mauro Ferreira Gomes
Em 3 de março de 2008
Revista do Clube Militar nº 428 –
Abr/2008
É sempre muito proveitoso procurarmos, na Natureza, resposta para os nossos
problemas. Quase todos os fenômenos que ocorrem nas sociedades humanas acontecem,
também, nos bandos de animais que se organizam em grupos hierarquizados.
Às vezes, as soluções que eles adotam, mercê da experiência acumulada pelas sucessivas
gerações, são melhores do que aquelas que insistimos em criar, individualmente,
a cada vez que nos deparamos com dificuldades semelhantes.
Temos recebido muitas mensagens com criticas severas aos colegas da Ativa e
aos Comandantes das Forças Armadas, aos quais os missivistas eletrônicos acusam
de omissão ou de ações que consideram inadequadas.
Julgamos que esse comportamento é desastroso e tentamos, por todos os meios,
mas com resultados fracos, convencer os nossos interlocutores de que é fundamental –
um imperativo de sobrevivência –
a união de todos os militares.
Para tanto, usamos repetidas vezes, entre muitos outros, os seguintes argumentos:
- Todos nós já estivemos no Serviço Ativo, quando não tínhamos a liberdade
que a Reserva ou a Reforma nos dão agora, não sendo, dessa forma, nem razoável
nem justo, exigirmos que outros façam o que não podem e nós mesmos não fizemos
antes;
- Um dos Princípios de Guerra mais importantes é o do Objetivo, assim, é contraproducente
desviarmos o foco das nossas ações, direcionando-as contra os amigos
que não conseguem fazer tudo o que deles esperamos, enquanto deixamos agir livremente
aqueles que verdadeiramente nos ofendem;
- Sempre que nos hostilizamos com fogo amigo, tornamo-nos mais fracos no
conjunto, e facilitamos a atuação dos que nos querem destruir;
- De nada serve desestabilizarmos os Comandantes, cobrando-lhes a renúncia
ou tentando forçar-lhes a demissão, simplesmente, para reiniciarmos o processo, pouco
depois da nomeação dos substitutos;
- As vítimas desses ataques autofágicos são os nossos herdeiros, aqueles que
nos sucederam, que aprenderam conosco e que não são diferentes de nós. Eles são a
nossa continuidade e não merecem, justamente por isso, o nosso rancor;
- Se, realmente, queremos que defendam, com mais energia, as nossas aspirações,
que são as deles também, devemos, primeiro, fortalecê-los, prestigiando-os,
apoiando-os, tornando bem claro que contam com a nossa solidariedade absoluta e
que uma ofensa a qualquer um será uma agressão a todos nós.
Tendo-se esgotado o estoque de alegações sem que tivesse havido qualquer
mudança significativa na situação, consideramos a causa perdida e resolvemos dedicar-
nos a outras atividades mais produtivas, consciente de que as dificuldades seriam,
ainda, maiores, por estarmos desunidos.
Uma mensagem do General Lessa (*), porém, trouxe-nos de volta a esperança.
Nela, um link (**) conduzia a um vídeo amador feito pelo turista David Budzinski,
que participava de um safári na África. A gravação se deu em uma área próxima
a um pequeno lago no Parque Nacional Kruger, de onde se tinha boa visibilidade
da outra margem, na qual se desenvolveu a ação que passamos a descrever.
Quatro búfalos adultos caminhavam pela savana, a grande distância da manada,
tendo um filhote mais afoito entre eles. A câmara se desloca e mostra, bem à frente,
no caminho que seguiam, alguns leões, cerca de seis, completamente mimetizados no
terreno. Os búfalos continuam a caminhada, até que, a apenas uns vinte metros, o
líder percebe a ameaça e dá o alarme. Os cinco disparam na direção da manada, mas o
filhote foi alcançado pelos perseguidores e desviado até cair dentro do lago.
Os caçadores começam a puxá-lo para a margem, onde pretendiam devorá-lo,
quando aparece um crocodilo, também muito mal intencionado, que tenta tomar a
presa dos primeiros predadores, puxando-a, novamente, para
dentro d’água.
Seguiu-se
uma disputa feroz entre o réptil e os mamíferos, que finalmente, saíram vitoriosos.
Parecia que o azar do filhote não teria fim, quando a manada se aproxima e faz
um cerco em volta dos leões. Eram tão numerosos que ocuparam toda a área visível
da tela. Nenhum dos outros integrantes da manada participou diretamente da ação.
Somente os quatro machos dominantes destacaram-se do grupo e passaram a atacar
os leões, um a um. Assustados, os felinos ainda tentaram proteger a caça, mas acabaram
tendo de fugir, depois de algumas chifradas bastante convincentes. Os búfalos os
perseguiram na fuga, mas assim que se afastavam um pouco da manada, desistiam e
voltavam rapidamente, pois sabiam que, sozinhos, seriam presa fácil para qualquer
dos perseguidos.
Expulsa a última fera, os búfalos se retiraram altivos, com o filhote novamente
protegido no seio da manada.
Chego a ter inveja desse bufalozinho de sorte, que pertence a um grupo capaz
de agir coordenadamente, cada um fazendo a sua parte com desprendimento, arriscando
a própria vida, para defender um dos seus.
O leitor pensou no que teria acontecido se, ao chegarem à manada, os quatro
precursores tivessem sido recebidos com uma saraivada de acusações, por terem
fugido diante do inimigo, deixando, ainda, o filhote para trás?
A esta altura, a alcatéia já teria terminado o banquete e, quem sabe, ainda faria
algumas refeições extras, aproveitando-se de alguns búfalos feridos no conflito interno.
Bem, a maioria de nós não tem os meios para defender os nossos interesses,
mas alguns do grupo se destacaram e vão à nossa frente. Sozinhos, igualmente pouco
podem fazer diante das adversidades, que são muitas, contudo, não lhes precisamos
oferecer muito, basta dar-lhes a nossa solidariedade maciça, ostensiva e irrestrita, para
que afastem os leões que nos perseguem.
Criticar é fácil. Será que estamos fazendo, pelo menos, o mínimo que nos cabe?
A realidade é simples assim: se formos capazes de aprender a lição que os
búfalos nos deram, venceremos, caso contrário, seremos todos devorados.
(*) Referência ao General-de-Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, que foi
Comandante Militar da Amazônia e Comandante Militar do Leste, Membro do
Alto-Comando do Exército e Presidente do Clube Militar.
O autor é Coronel-Aviador reformado".
Juntos Somos Fortes!
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