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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

"CRÔNICAS DE UM CASCUDO - POLÍCIA CIVIL DO RJ - 22.09.17"

Prezados leitores, transcrevo um texto anônimo que circula pelas redes sociais.



"Crônicas de um cascudo - Polícia Civil do RJ - 22.09.17

Nós policiais assistimos atônitos o que vem ocorrendo na Rocinha, antes favela, depois batizada de comunidade e recentemente elevada a categoria de bairro, como se a mudança tivesse resolvido o problema. Em outras palavras, é como se pegássemos um camelo e o rebatizássemos e passássemos a chama-lo de águia, e como um milagre, o quadrupede saísse voam alçando os céus pela porta com o novo batismo.

Vemos agora as autoridades correndo pra todos os lados e buscando desculpas e explicações, pois soluções e planejamento não possuem.

As expressões de impacto, tais como: “nosso serviço de inteligência...”; ...” a ação será controlada...”, “...já tínhamos conhecimento, mas....”... não mais surgem efeito.
Chamem o exército !!!!; grita com voz de solução uma sociedade hipócrita e ignorante.

E lá vem o exército, com sua parafernália. 
Tanques, mísseis, helicópteros com metralhadoras, veículos blindados, anfíbios, granadeiros e etc.... como se fosse possível operar em território urbano com todo esse equipamento.
E lá vem o exército, com militares equipados, caras pintadas pra guerra, camuflados, visão noturna, mas sabemos que o que tem por baixo de todo esse aparato, são recrutas convocados para o serviço militar obrigatório, em quase sua totalidade sem vocação, e principalmente em sua maioria, residem nas mesmas comunidades onde o conflito se deflagra.

Lá vem o exercito !!!!!

Enquanto fazem o famoso circo, ou melhor, cerco, e posam para mídia como salvadores, os traficantes se deslocam para outra comunidade e lá esperam desarmar o circo, ou melhor o cerco, e depois retornam.

 Ao mesmo tempo em os militares salvadores possam para imprensa, bravos policiais militares e civis, entram na comunidade em busca dos criminosos que lá já não mais estão. Os mesmos policiais que a tempos são massacrados pela imprensa, pela sociedade e pelo sistema corrupto instalado em nosso Estado, agora combatem o mesmo inimigo pela milésima vez.
É a famosa operação POMBO.

Em metáfora, numa praça, vários pombos defecam pelo chão e a comunidade reclama da sujeira causada, mas não permite o sacrifício dos animais, mas querem uma solução. Então você corre batendo palmas, o barulho assusta os pombos e ele voam para outro lugar, voam e pousam na praça mais próxima e lá começam a defecar e causar a mesma sujeira. Passa-se o tempo, quando aquela outra comunidade reclama da sujeira em sua praça, mas também não permite o sacrifício dos animais, então, você bate palmas novamente eles levantam voo e retornam defecando e sujando a mesma praça anterior. 
E assim vai a nossa segurança pública.

O que vemos agora é um segundo exército de homens desmotivados, sem equipamentos, sem apoio e sem reconhecimentos do trabalho prestado, essa é a nossa polícia.
Há um contraste gritante, entre o equipamento ostentado pelo exército nas operações e o utilizados pelos policiais, ou seja, um fuzil e uma mochila com munição contada e velha. A viaturas militares reluzem em sua beleza, enquanto os policiais empurram as suas que não funcionam.

O mais curioso é o silêncio nas mídias sociais daqueles que chibataram por tanto tempo uma polícia que muitas vezes vai além de sua obrigação, se arrisca irresponsavelmente em defesa de outros, combate sem as mínimas condições numa guerra desigual..... estão sem voz... pois não podem pedir socorro a  “POLÍCIA”, seria um contrassenso, um antagonismo, pois a Policia que resolveria o conflito, é a mesma que pediram para retirar das comunidades, a mesma que foi taxada de corrupta, violenta, a que mais mata.

Curioso também ver a palidez dos dirigentes da nossa briosa polícia civil diante do problema. Por trás daquelas mesas de carvalho entalhada, olham pela janela e nada vêem, nada enxergam, nada planejam, nada sabem.

Hoje não vemos a cara mais dos nossos dirigentes, dos delegados de polícia que ombriavam os policiais nas operações, dos que saltavam à frente e diziam ter sido por sua determinação aquela ação, das famosas reuniões com chefes de serviços, policiais mais experientes, que eram ouvidos durante o planejamento de uma operação, ouvia-se a experiencia, hoje se ouve apenas o cargo.
Hoje tudo resume a mensagens de WHATTSAPP, não há mais cara a cara, mas sim mensagens, ordens descoordenadas, ameaças veladas, pedidos de “ajuda”, compreensão, promessas, frases de efeito sem efeito, frases prontas...

Ultimamente tenho a impressão que nos tornamos uma instituição como o HEMORIO (com todo respeito, nessa absurda comparação), pois a maioria das mensagens que recebemos de nossos dirigentes, fazem referência do tipo: “temos que dar nosso sangue...”, “ temos que doar nosso melhor ...”, “ ...policia está no sangue...”, “...não fugimos da luta...”.... e lamentavelmente a frase mais antagônica está diante dos nossos olhos todos os dias... “Em defesa de quem precisar...”.’

Nós precisamos !!!!, nós simplesmente precisamos....
Precisamos de respeito, melhor condições de trabalho, direitos e garantias preservadas, reconhecimento e etc...

O que concluo, é que tais frases revelam uma fracassada tentativa de estimular quem já não mais conhece essa palavra, revela o desespero em resolver ou apresentar soluções, que não possui.
Mas me pergunto, pra que se preocupar em fracassar como Autoridade Policial, pois depois que se aposentar pode ser tornar um “famoso” especialista em segurança pública, consultor de programas de televisão, ou quem sabe tentar a vida política, pois em qualquer das opções poderá expor todo o seu conhecimento teórico, pois na prática de nada serviu.

Nós policiais nesse momento, devemos inteligentemente conter nossos impulsos, devemos enxergar o que não enxergam, a nossa importância.

O que esperam de nós é que cometamos o mesmo erro histórico, abraçar essa guerra como se fosse nossa. Tomar a causa como pessoal, sair as ruas caçando marginais por conta própria, buscando o conflito sem nenhum apoio jurídico, politico ou institucional.

Em pouco tempo ouviremos vozes estimulando o conflito, que a polícia “tem mesmo é que matar..”, mas esse impulso só dura até você se ver sozinho diante do banco dos réus.

Devemos agir com inteligência, frieza e calma... sem impulsos...
Essa guerra não é só nossa...
Mas seremos policiais sempre".

Juntos Somos Fortes!

3 comentários:

  1. COMENTÁRIO MUITO LÚCIDO E COERENTE.PARABÉNS AO COMPANHEIRO DA PCERJ QUE O ESCREVEU.
    O CRIME É UM FENÔMENO SOCIAL E PELA SOCIEDADE COMO UM TODO DEVERÁ SER RESOLVIDO, COMO ENSINA MANUEL LOPEZ-REY, UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS NA EXPERTISE DO CRIME,
    PAULO FONTES

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  2. Nelson HERRERA Ribeiro, Cel PM Ref25 de setembro de 2017 às 22:30

    Pelo texto, pode-se inferir que o autor seja policial civil, embora relate com realismo situações vividas também pelo policial militar. Ou seja, civil ou militar trata-se de cidadão lúcido e imbuído do idealismo da missão policial. Há muito tempo, há exatos 33 anos, fui preso disciplinarmente e amarguei 3 anos em disponibilidade (no nosso jargão, na "geladeira") por dizer e escrever coisas semelhantes. Por isso me identifiquei muito com a bravura desse combatente, que, por sobrevivência, deve manter o anonimato. Entretanto, permita-me solidarizar-me, usando uma pitada de ironia.
    Não se preocupe, companheiro, em pouco tempo a panaceia de todos os problemas da segurança pública chegará em duas soluções já cogitadas -- extinção da PM com a fusão com a PC ou institucionalização da Força Nacional de Segurança. Tudo se resolverá, sem os pesados custos de melhor formação do policial, sem os enormes investimentos em equipamentos adequados e armamentos modernos, sem essa carga financeira de remuneração justa da função policial. É tudo muito fácil. E se não der certo dessa forma, voltamos ao circo -- desculpe, ao cerco -- das comunidades com toda a parafernália de guerra das Forças Armadas, totalmente ineficaz na guerrilha urbana de fato já instalada.
    Ou, então, se pararmos de "enxugar gelo", utilize-se o poderio bélico para fazer o que se deve (como já sugeriu o Cel PAÚL): reconheça-se o estado de beligerância (há ocupação de parte do território nacional ocupado por inimigos); proceda-se à tomada desse território (cerco e ocupação); obtenha-se a prisão ou a eliminação dos inimigos, com a apreensão de armas; reocupe-se o território reconquistado com a força policial necessária (PM e PC), paralelamente a indispensáveis ações sociais (serviços de saúde, educação, atividades comerciais, habitação e afins).
    Contudo foi muito interessante o artigo difundido. E útil para as discussões. Não cabe outro comentário senão os sinceros PARABÉNS ao autor!

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  3. Muito bom! Excelente comentário da situação! Até quando o povo vai aceitar essa encenação?! Até quando vai aceitar ser vítima dessa farsa política?!

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