JORNALISMO INVESTIGATIVO

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domingo, 15 de dezembro de 2013

AS UPPs SÃO UM PROJETO DE REMOÇÃO DOS “FAVELADOS”?


Prezados leitores, ontem o jornal O Globo publicou na coluna “Opinião”, um editorial com o seguinte título: O projeto em construção das UPPs.
Antes de ingressarmos na análise do referido editorial, gostaríamos de lembrar que todo editorial representa a opinião do órgão de imprensa, portanto, tem um peso muito maior que um artigo assinado por uma pessoa. Além disso, solicitamos que busquem na memória o que leram ou ouviram até a presente dada tendo como origem o grupo que considera que as UPPs representam a implantação de um “Estado Policial” nas comunidades carentes, onde a polícia (Polícia Militar) regula a vida social.
O nosso objetivo não é discutir se as UPPs são ou não a regulação da vida nas comunidades manu militare, mas é importante que essa ideia defendida por muitos faça parte do contexto para uma melhor avaliação. Primeiro queremos ratificar que existe um movimento de fortalecimento do projeto das UPPs, o que tem ficado transparente no número de matérias positivas publicadas pela grande mídia e, sobretudo, pelo reaparecimento do secretário de segurança nos noticiários, ele que andou sumido durante os protestos, quando a PM foi esmagada pela imprensa.
Leitores foquem nesse ponto, tudo leva a crer que as UPPs serão novamente a única bandeira de Cabral, como foi em 2010, mas dessa vez para fazer ser sucessor, o vice Pezão. Acompanhem com atenção os movimentos da grande mídia para verificarem se o apoio será amplo, geral e irrestrito, novamente.
O editorial trata as UPPs como algo que só tem pontos positivos, essa foi a tática em 2010: ocultar os aspectos negativos por mais evidentes que fossem.
No artigo anterior fizemos uma menção a esse tipo de abordagem:
“O editorialista cita como fator positivo das UPPs a taxa de 8,7 homicídios por 100.000 habitantes, diz que é inferior a média nacional (24,4) e de Washigton (19). Isso é verdade.
Infelizmente, esqueceu o autor de esclarecer que a relação policial por habitantes nas UPPs é a melhor do país, talvez uma das melhores do mundo e que esse fator é determinante para a diminuição dos crimes. Na prática, isso significa que não existe inteligência no fato de diminuir crimes através do emprego de grande efetivo policial, isso é a consequência natural, sendo que no Rio teve o efeito negativo de ter transferido os criminosos para outros bairros e outros municípios, ou seja, transferiu a violência e, certamente, os homicídios, tanto que estão em alta, algo também esquecido.
Pior, esqueceu que a taxa de mortalidade de PMs no Rio é maior nas UPPs do que no restante do estado.”
Nas nossas vertiginosas ficções, baseadas em fatos reais, consideramos que a entrevista e o editorial constituem apoio direto ao governo estadual.
Certos ou errados, o futuro mostrará.
Apesar de considerarmos o editorial “chapa branca”, pensamos que ele poderá trazer transtornos ao governo, como procuraremos demonstrar.
O editorial destaca um trecho da entrevista do secretário Beltrame:
“A UPP é apenas uma anestesia. As pessoas gostaram desse efeito anestésico, mas tem medo de encarar a necessária cirurgia.”
E, acrescenta:
“A “cirurgia” passa inevitavelmente pela questão das remoções, um assunto ainda tratado como tabu, mitigado em geral por ideologias ou interesses políticos menores mas que precisa ser encarado sem hipocrisias”. 
O editorialista avança:
“Algumas demandas não foram devidamente atacadas como a permanência de becos e áreas de difícil acesso que dificultam o policiamento, ou o reaparecimento de nichos residuais de violência que exigem atuação mais firme da PM. Problemas inerentes a uma obra em construção, mas sanáveis”.
Salvo melhor juízo, talvez perdidos nas nossas ficções, concluímos que a presença da Polícia Militar nas comunidades tornará sanáveis as pretendidas remoções. Afinal, como pensam alguns, elas são a implantação do “Estado Policial”.
Então, as UPPs permitirão a urbanização das “favelas”, o fim dos becos e dos locais de difícil acesso para os PMs, promovendo a remoção de dezenas de milhares de moradores da Rocinha, do Pavão-Pavãzinho, do Dona Marta, da Maré, do Complexo do Alemão, da Cidade de Deus, entre outras comunidades carentes.
Resta saber para onde serão removidos esses milhares de famílias fluminenses que moram em becos e em áreas de difícil acesso.
Se é que isso é importante para o governo e para a grande mídia.
O editorialista concluiu afirmando que as UPPs são “um patrimônio da sociedade que precisa ser tratado como política de Estado, imune às influências da baixa política”.
Resta saber patrimônio de que parte da sociedade?
Certamente, patrimônio da parte que mora na Zona Sul, tanto que as UPPs começaram a ser implantadas por lá, embora não fosse a região mais violenta do estado e foram de lá que o governo transferiu centenas (ou milhares) de traficantes com suas armas de guerra para outros bairros e outros municípios, considerando que não os prendeu quando implantou as UPPs.
Pensamos que as UPPs não são patrimônio da maior parte da sociedade fluminense, a parte que recebeu os traficantes oriundos da Zona Sul e da Tijuca, por exemplo. Essa parte da sociedade prefere que o batalhão da área tenha um efetivo suficiente para promover o policiamento ostensivo que dará a ela a segurança que tanto precisa, o que é impossível com os batalhões sucateados como estão para priorizar as UPPs.
Perdidos nas nossas vertiginosas ficções, começamos a ver no futuro próximo os PMs das UPPs, os treinados no policiamento de proximidade (novo nome do policiamento comunitário), dando segurança aos operadores das máquinas que derrubarão os casebres que formam os becos e que tornam os locais inacessíveis.
E, todos nós "anestesiados" permitindo que isso aconteça.
Por derradeiro, lembramos que o termo “remoção” empregado no editorial é politicamente incorreto, o mais suave é “relocação”, embora os efeitos sejam idênticos.

Juntos Somos Fortes!

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