JORNALISMO INVESTIGATIVO

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

"O FLAMENGO E O REBAIXAMENTO DA PORTUGESA" - A IMPRENSA NÃO TEM CULPA, SEGUNDO A GLOBO



Prezados leitores, um companheiro de twitter encaminhou esse texto da lavra do jornalista Gustavo Poli, salve melhor juízo, editor do Globo Esporte. É um artigo bem escrito, onde o autor carrega no humor, uma técnica par afastar a seriedade do tema. Ele trata de teorias conspiratórias sobre o rebaixamento da Portuguesa. 
Entre uma gozação e outra ele desqualifica todas as teorias, mas simultaneamente faz uma defesa da imprensa, uma vítima dos conspiradores. Ele transforma a imprensa em uma ilha de honestidade, como se a imprensa não representasse uma parte do povo brasileiro quer tem como máxima levar vantagem em tudo.
Respeitosamente, eles também estão na imprensa e são capazes de tudo para levar avantagem. Não existe só santos na imprensa.
Além disso, o autor é empregado do principal interessado no desfecho dessa historia: será que algum brasileiro tem dúvida sobre quem a Globo prefere na primeira divisão: o Flamengo, o Vasco, o Fluminense ou a Portuguesa?
Interessante destacar que a frase que ele atribui ao jogador Hévertom (Hã? Eu não falo com o presidente da Portuguesa há quatro meses.), ao ser colocada no google, só aprece no sire do autor. Não encontramos referência em outro órgão da imprensa, algo que soa estranho.
Gustavo Poli acusada a todos, faz piadas sobre todos e isenta a imprensa.
Eis o artigo, publicado ontem: 

"COLUNA DOIS 
Segunda-feira, 23/12/2013 às 19:27 por Gustavo Poli Os fatos, esses chatos 
Nós adoramos um boitatá. Mesmo diante de evidências evidentes, da afeição tupiniquim pela lambança como método, e de todas as disposições em contrário... o brasileiro prefere acreditar em forças obscuras. Não há como negar: nutrimos especial apreço pela Mula-sem-cabeça, pela Cuca, pelo Saci-pererê. Queremos discos voadores, duendes travessos e personagens afins. Vejam a semana do futebol. O caso Héverton cuspiu um Arquivo X por dia. A cada instante, numa rede social ou celular perto de você, surgia uma conspiração diferente. 
Num país de centrões, mensalões e lalaus, é compreensível que o povo acredite que há sempre algo debaixo dos panos proverbiais. Muitas vezes há. O problema é que esse “algo”, quase sempre, é acidental. É uma lambança, uma malandragem rasteira, um drible de corpo – e não uma armação refinada. Amigos, estamos no Brasil – onde esta semana, “celebramos” o 30o aniversário do roubo da Jules Rimet. 
Para os mais jovens, vale a memória: o Brasil faturou a Jules Rimet com o tri mundial no México em 1970. Vinte e três anos depois, a taça original ficava em exposição na sede da CBF – enquanto sua réplica era guardada num cofre.
Leia de novo a frase anterior.
(Mais uma vez) 
(Só mais uma)
Pois bem – como o leitor deve ter presumido - larápios agradeceram a gentileza e passaram a mão no troféu. Claro que, como bons bandidotários brasileiros – acabaram presos e, depois do tradicional sabão, confessaram. Só que a polícia – aparentemente – tinha chegado tarde. Os malandros já tinham derretido a taça. Para a posteridade sobrou a réplica... que estava no cofre. E o sorriso amarelo da jumência. 
O episódio sublinha a tese: somos muito mais competentes na arte da lambança do que na da armação. Nossos vilões mais consagrados são de desenho disney: atrapalhados, aparecidos, especialistas em deixar rastro. De Cachoeira a Delúbio, passando por Waldebran e Carequinha da Grana. João Bafo-de-Onça perde. arquivox 
Nossos corruptos são filmados levando grana e fazendo boquinhas. Nossos meliantes viajam com dinheiro escondido na cueca (e são apanhados). No país onde cachorros oficiais voam de helicóptero e implantes aterrissam nas asas da FAB – é preciso muita fé para acreditar que, em tempo recorde, os competentissimos dirigentes de futebol teriam sido capazes de armar silenciosamente para rebaixar um time e poupar outro.
Escolha uma teoria conspiratória
O mais divertido do Hevertongate é que ele demanda uma múltipla escolha entre teorias conspiratórias. Primeiro queriam salvar o Flu. Depois o Fla. Depois o Fla e o Flu. Ou seria o Vasco? Arrá – a intenção secreta seria melar o campeonato de pontos corridos e preparar a volta do mata-mata!? 
teoria 
O primeiro Arquivo-X enxergou as digitais do Fluminense na escalação soturna de Héverton. O time carioca, o Richard Kimble do desrebaixamentos, teria comprado a Lusa com dinheiro de sua patrocinadora. Como a Lusa vai perder ali uns R$ 20 milhões ao cair – imagina-se que a Unimed-Rio tenha oferecido planos de saúde para comerciantes portugueses até 2122 com cobertura infinita. 
Uma segunda tese dizia que o Vasco tinha preparado tudo – graças às conexões lusitanas – de modo a melar o campeonato e evitar sua queda. Como a trama precisaria ter sido urdida pelo Roberto Dinamite – a versão não ganhou muita tração. Era mais fácil Roberto ter achado uma lâmpada, esfregado e dela ter saído um gênio em forma de Eurico Miranda pra realizar três desejos... do que conseguir armar algo assim. 
(Vascaínos maldosos contaram essa piada – de que Roberto achou essa lâmpada enquanto andava por São Januário... e que, Eurico-gênio, a contragosto, se viu obrigado a realizar os três desejos. Mas Roberto não conseguiu decidir o que queria – e os dois se viram condenados a viver para sempre numa dobra do espaço-tempo) 
A terceira onda conspiratória apontava o dedo para o Flamengo. Ao perceber que escalara André Santos de forma irregular, na noite do sábado, dia 05/12, o rubro-negro carioca teria mobilizado a Globo, o Papa, a Nasa e provavelmente o Comando Anti-Monstro para, através de telepatas secretamente treinados, persuadir Guto Ferreira a escalar o Héverton. 
Numa versão mais radical, houve quem dissesse que alienígenas azuis teriam abdudizdo todo o staff jurídico da Portuguesa e implantado andróides sem cérebro em seus lugares. Um dado para reforçar essa suspeita: Oswaldo Sestário – que claramente veio da galáxia de Andrômeda. A teoria chegou a ganhar força após a atuação extraterrestre da Portuguesa nos tribunais até que... alguém lembrou que... o Flamengo jogou no sábado. Se o Flamengo soubesse na sexta que tinha feito bobagem.. de repente bastava não ter escalado o André Santos no dia seguinte, certo? Ou de repente o clube fez a besteira e, ainda no vestiário pós-jogo, usou uma máquina do tempo, voltou um dia no passado justo a tempo de trocar Sestário pelo Carlos Eduardo de peruca. Não que não seja possível mas... 
No twitter, circulou uma versão de Héverton teria dito, numa conversa, que tinha jogado suspenso a mando do presidente da Portuguesa. Héverton, claro, tinha esquecido de mencionar isso em todas as 700 entrevistas que deu e, de repente, num súbito acesso de sinceridade, resolveu soltar essa num bate-papo informal. Um portal de torcedores do Fluminense ecoou a história. Héverton, ouvido sobre o tema, riu e comentou: 
Hã? Eu não falo com o presidente da Portuguesa há quatro meses.
As teorias, e a semana em geral, nos lembraram mais uma vez como o torcedor de futebol médio é incapaz – absolutamente incapaz – de argumentar racionalmente quando o tema envolve seu time. É compreensível – a paixão pelo time faz parte de cada fibra do sujeito. Ele sente cada notícia “negativa” como um ataque pessoal. Os intelectualmente menos abençoados então... se sentem ofendidos de verdade. Mais - se sentem no direito de reagir com toda sorte de violência verbal. E não apenas. 
Esse comportamento, levado ao extremo, produz cenas como a do vascaíno na arquibancada com barra de ferro na mão (e prego na ponta) pronto a esmagar o crânio de um desacordado. Pode soar surreal – mas aquele sujeito acreditava estar protegendo seu time, sua paixão, seu território. 
No mundo virtual, os nocautes são mais sutis. A testosterona, que flui em digitadas linhas, produz um UFC por polêmica - mas ninguém sai de maca. Era de se esperar, pois, que o debate judicial da semana produzisse gentilezas variadas. Mas foi algo inesperada sensação de torcedores do Fluminense - que se sentiram vítimas - reclamando que o clube foi moralmente linchado antes/durante e depois do ex-rebaixamento. 
O principal alvo das reclamações tricolores foi essa entidade vaga que chamamos de imprensa esportiva. Jornais e sites foram questionados, atacados, criticados. Os torcedores estrilaram porque o Sportv lembrou que, em 2010, o procurador Paulo Schmitt deu uma declaração em tom ameno sobre mudar o resultado do campo. “Estão querendo condenar o Fluminense!”. Era apenas uma informação relevante. Ouvido, Schmitt disse que a declaração estava fora de contexto – e o leitor/espectador formou sua opinião como quis. 
Os teóricos do “linchamento” foram mais longe. Comentaristas que – em mesas-redonda – consideraram “imoral” ou “vergonhosa” a decisão do STJD – foram acusados de estimular a violência. Houve realmente quem dissesse que opiniões assim aumentavam a hostilidade contra tricolores nas ruas. 
Culpar o mensageiro, como se sabe, é uma prática ancestral. Exageros à parte, o Fluminense foi vítima do destino – e não da imprensa. Não foi a imprensa que desrebaixou o Fluminense três vezes. A imprensa apenas relatou o que aconteceu – e pela terceira vez – seja por fatores externos, internos ou sobrenaturais – o Fluminense foi beneficiado fora de campo. Quem metralhou o tricolor das Laranjeiras foram os torcedores rivais - que sentiram a não-queda como ofensa. Comentaristas são pagos para opinar. Você pode discordar ou concordar com eles ( em geral os torcedores concordam com aqueles que dizem-o-que-eles-querem-ouvir). E a imprensa trabalha melhor quando oferece contexto e pluralidade. Ou seja: quando ecoa todos os lados e pontos-de-vista. O que, nesse caso, foi feito e de forma correta. Juristas de diversas matizes produziram teses contraditórias - que foram publicadas por toda parte. Mas tanta coisa foi publicada e discutida - e tamanha foi a grita - que algumas verdades me pareceram descer ao subterrâneo. Talvez por isso os tricolores tenham se sentido vítimas. Vale, por isso, desenterrá-las: 
1 - Qualquer clube – de qualquer série – teria feito exatamente a mesma coisa que o Fluminense fez. Diante do erro alheio – teria buscado seus direitos no tribunal. Portuguesa (e antes o Flamengo) fizeram uma lambança siderúrgica e indesculpável. Isso quer dizer que o rebaixamento da Lusa é justo? Não. A pena é muito maior do que o crime. Mas... quem cometeu o pecado foram os dirigentes do time paulista. Não foi o Fluminense que deu mole e escalou o Héverton.
2 - Se qualquer outro time estivesse no lugar do Fluminense – seus torcedores teriam adotado o discurso legalixsta. Teriam repetido as mesmas palavras que os tricolores disseram – letra por letra, artigo por artigo. Tem que cumprir a lei etc. E, certamente, os tricolores estariam do outro lado – lamentando a grande injustiça cometida contra a Portuguesa.
3- - A pena de perda dos pontos é por causa do jogo – não por causa do campeonato. Errado ou certo, o Tribunal não poderia julgar o campeonato – só o caso. É assim que o sistema funciona.
4 – Se existe tribunal – é porque a pena não deve ser meramente aplicada – seja ou não discricionária. O sistema judicial esportivo brasileiro é único – pois acredita no contraditório e no direito à defesa. Como demonstrado no caso do Cruzeiro – a pena de perda de pontos não é cabal. Mas é muito grave escalar um jogador irregular. Leniência, nesse caso, pode afetar a integridade do esporte. Ênfase no “pode”. 5 – É, repita-se, inaceitável que, em 2013, uma informação “de boca” seja responsável pela perda de pontos (e pelo rebaixamento) de uma equipe. Na era da informação, a CBF permitir que um jogador suspenso possa ser escalado é algo contrário aos interesses do esporte.
6 – É evidente que o tamanho da reação dos outros é maior porque o beneficiado foi o Fluminense – e não outro time. A carga da virada de mesa de 1996/97 e do salto divisional de 2000 pesa. Não importa para os rivais – e isso o torcedor tricolor deve entender – se o clube teve algo a ver com as ações que levaram a isso. Importa é que soa injusto. E isso criou essa sensação gigante de antipatia - que vai demorar a passar.
7 - Concordar com a tese do jurista que apóia seu time é como concordar com o árbitro que marcou pênalti duvidoso a favor. É fácil. O contrário... é que são elas.
Ah, a ignorância... 
Quando a poeira começou a baixar... os mesmos tricolores que reclamavam da imprensa correram para retuitar e compartilhar a reportagem sobre os vazamentos no Flamengo. Mas.. peraí? E o linchamento? Aí foi a vez de alguns rubro-negros – que antes vibravam com as reportagens sobre o cai-não-cai do Flu – entrarem em campo estrilando. 
O curioso é que as pessoas não percebem a própria parcialidade. O sujeito oscila entre lobo e hiena com a maior das facilidades dependendo da notícia. Se a notícia ruim é sobre o time dele... quer o fígado. Se a notícia ruim é sobre o rival... que delícia – vamos compartilhar, rir, dividir etc. No primeiro caso, a imprensa é isso, aquilo e aquilo outro. No segundo, botão de share. 
O torcedor tem um interesse apenas: ganhar – dentro e fora de campo. A vitória de seu time traz uma sensação atávica – é como se ele ganhasse, como se seu “mundo particular” fosse vingado e consagrado. É isso que o torcedor projeta naqueles 11 sujeitos suados chutando uma bola durante aqueles 90 minutos. E também na partida eterna do time contra seus rivais. 
Se futebol faz diferença na sua vida durante a semana – se você vai estar bem ou mal-humorado, se vai zoar ou ser zoado, se vai conseguir dormir ou não... é porque, sim, aqueles sujeitos suados fazem diferença ao representar a camisa que você, por algum motivo, escolheu. Aquela camisa que faz você se sentir especial – seja sofrendo, sorrindo, chorando, cantando ou vibrando. 
Essa camisa diz tanto que, quando você vê esses jornalistas chatos lembrando que são seres humanos que a vestem – e não super-heróis – você não gosta. Você não quer saber que esses seres humanos erram, fazem sandices, perdem gols, faltam treinos, namoram periguetes, esquecem de avisar que jogadores estão suspensos... bom – quem quer saber disso? É fofoca! Quem quer saber das lambanças lá de casa? Quem deixou esses frustrados entrarem aqui pra saber disso? Quem deixa esses desgraçados falarem sobre isso? Que direito eles têm? Eu, se fosse dirigente de clube, não deixava eles entrarem mais! Ficava só com o site oficial ou com quem só fala aquilo que eu quero ler ou ouvi... epa... peraí... 
A ignorância, escreveu um poeta inglês em 1742, é uma benção. Dois séculos depois, um escritor americano respondeu com ironia: os fatos, esses chatos, teimam em acontecer mesmo quando ignorados". 

Isso é sinal que a imprensa está preocupada, vai que uma teoria emplaca.

Juntos Somos Fortes!

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